Caros três-lagoenses:
Foram exatamente essas as palavras que foram ditas pela prefeita em evento ocorrido nesta segunda-feira, que contou com a presença do governador André Puccineli e outras autoridades no Fórum da nossa cidade.
Essas palavras foram ditas em resposta aos pedidos (que mais pareciam súplicas) pela não demolição do prédio do antigo Fórum. Isso mesmo, súplicas, porque as pessoas envolvidas naquele apelo se emocionaram de forma visível diante de todos, não para chamar a atenção, mas porque a emoção falou mais alto.
Representantes do SINTED, historiadores, geógrafos e também o cidadão e ex-prefeito Lúcio Queiroz Moreira, que incansavelmente escreveu e discutiu sobre esse assunto neste mesmo Jornal, conseguiram se aproximar e falar por alguns instantes com as autoridades sobre o descontentamento e a não aprovação da sociedade quanto a esta decisão, tentando sensibilizar aquelas pessoas, lembrando-os de que este prédio carrega em si muito da história de Três Lagoas, que uma atitude como esta está na contramão da História e da cultura e que só irá confirmar a falta de interesse da administração atual em preservar o nosso patrimônio histórico.
Nenhum de nós que abraça essa causa em defesa da não demolição do “velho” Fórum é contrário à modernização de Três Lagoas, mas é preciso lembrar que o crescimento e o progresso de uma cidade exige de seus moradores constante reflexão sobre os caminhos (e descaminhos) dessa modernização, como eu já enfatizei em artigo anterior. Modernidade e progresso não é, e não poderá ser jamais, sinônimo de sair “passando o trator” em cima de tudo que ficou pra trás, principalmente porque para trás, nesse caso, não ficará apenas concreto, ficarão lembranças, sentimentos, ficará parte da história de Três Lagoas
Que frieza é essa senhores ao tratar desse assunto? Bem, essa frieza deve ser “privilégio” de quem não tem nada para se lembrar. Que triste isso!
Se o “velho” Fórum for demolido desaparecerá mais um capítulo da história de Três Lagoas, e assim continuará enquanto o “ranço” e o clima de má vontade em preservar o nosso patrimônio histórico permanecer entre as autoridades que tem poder de reverter essa situação e não o fazem.
Éramos poucos nesta segunda-feira e, conseguimos alguns minutos de forma totalmente improvisada e desarticulada, reconheço. Talvez tenha sido por isso que tenhamos ouvido essas palavras, de que a nossa discussão é tardia, de que chegamos tarde, mas eu quero registrar que tardia é a compreensão de alguns sobre a importância dessa discussão. E pode ser que lamentavelmente não tenhamos êxito nessa nossa reivindicação, mas me conforta lembrar agora de um antigo provérbio africano que diz o seguinte: “Enquanto os leões não tiverem seus próprios historiadores, as histórias de caça continuarão a glorificar os caçadores”.
Assim, enquanto o destino do nosso patrimônio histórico vai sendo decidido em gabinetes, a nossa memória imaterial (e essa ninguém nos tira), cuidará de contar amanhã a todos sobre a verdadeira história dessa destruição, dessa demolição, dessa “caçada”, e nem é necessário ser historiador para isso, mas todos nós que defendemos essa causa seremos os “leões” do provérbio africano.
Maura Tânia Guimarães é historiadora e professora da rede pública e particular.
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