Ouro? Vil metal que todos tentam conquistar em sua excelência. Pouco importa se para isso tenham que derrotar tantos outros, que com o mesmo objetivo, lutam insistentemente pelo abjeto dourado.
A incapacidade de sua conquista é objeto de constantes repulsas por parte de uma mídia, pouquíssima especializada e incapaz de reconhecer o benemérito da derrota. Derrota? Oposto da vitória, adjetivo sinônimo de incompetência, mas quem melhor que eles (nossos atletas) têm a competência e a capacidade de, ao menos, tentar?
Aquela máxima que diz que o importante é participar deve ter sido criada antes de Zeus laurear os vitoriosos com ramos de oliveira, pois, depois disso, a luta incansável pelo ápice grego passou a ser objeto de desejo de uma centena de milhares de pessoas, que a cada quatro anos, renovam as esperança.
Gladiadores entravam na arena com o objetivo de se manterem vivos. Hoje, a não obtenção de um pingente dourado é considerado por muitos, a morte de um atleta. Se o jogador de futebol morre duas vezes, (quando encerra a carreira e quanto desencarna) o atleta olímpico, morre a cada quatro anos, quando não conquista a o topo dourado. De uma olimpíada a outra, até mesmo o campeão morre. Eu sei, é um tanto paradoxal, mas o atleta olímpico, na ótica midiática, é um grande urso hibernado, que dorme durante quatro anos. Mas a culpa não é da mídia, e sim, de um sistema completamente falido, que aposta todas suas fichas em um ou dois atletas. Desta forma, se acertar na sorte grande, consegue respirar um pouco aliviado, e fazem desses atletas HERÓIS de uma nação que NÃO TEM objetivo esportivo.
Nos Estados Unidos o esporte é premissa universitária; em Cuba, um orgulho; e na China uma EXIGÊNCIA. Mas nos três grandes potenciais esportivos o INCENTIVO ao esporte é medalhista de ouro. Quem dera se aqui no Brasil fosse assim. Além de não ser, ainda fazem uma cobrança continental daqueles que abdicam de viver em sua pátria para ser atleta, já que não existem condições brasileiras de ser um atleta de ponta, e não é apenas pela falta de incentivo, mas pela falta de comprometimento com o esporte e com toda uma população, carente ou não, de programas esportivos. Não me refiro a programas televisivos, mas programas governamentais, como uma escola de atletismo, de ginástica, de natação, de hipismo, de quaisquer de sejam as modalidades olímpicas. Nas escolas públicas, no pouquíssimo horário de educação física, se brinca de futebol ou vôlei, até o basquete fica esquecido dentro da quadra escolar. Para um país, em que os esportes coletivos são seus maiores trunfos para a sonhada medalha É MUITO POUCO.
Parabéns aqueles que estão em Londres e não apareceram na TV, simplesmente porque seu esporte não é conhecido em NOSSA pátria, ou porque, seu resultado é ineficiente para o ibope televisivo. Essa ineficiência influencia, ainda, no patrocínio destes atletas uma vez que não tem retorno midiático, daí surge um novo drama para esses esportistas: a falta de investimentos privados nos esportes menos expressivos.
Nossos guerreiros têm, por muitas vezes, que trabalhar em um ou dois empregos, treinar e competir sem esses apoios e ainda fazer bonito, para que na olimpíada vindoura, talvez tenha alguém que queira investir nele.
É Brasil, nas olimpíadas da gestão esportiva, você não se classificaria nem em uma semifinal. Somos DE FATO um país de terceiro mundo. Tenhamos vergonha de nossos governantes e orgulho dos nossos atletas. Que venham muitas medalhas de bronze para o Brasil, pois só se chega ao ápice subindo degrau por degrau, e hoje estamos a dois passos do nosso objetivo, os dois mais difíceis passos de se dar: investimento e comprometimento.
RodrigoOstemberg é jornalista e fotógrafo.