Recebi um correio eletrônico de um professor que dizia que não poderia dar aula naquela semana. Antes mesmo que eu me perguntasse por quê, o próximo parágrafo da carta breve e coletiva o respondia: “Por motivo de fuerza mayor”. E nada mais.
Fiquei sem entender qual foi mesmo o motivo. Dediquei-me a outras atividades este dia. Até que, andando pela universidade, reparei num aviso de outro professor fixado na parede, desta vez de outra turma, que dizia que não estaria presente naquele dia “POR MOTIVO DE FUERZA MAYOR”. Assim mesmo em letras maiúsculas.
Acho que virou moda dar essa desculpa no México. Quantas outras vezes falta entender as decisões, as motivações e as reações alheias?
É comum sair de uma festa ou conversa achando que poderíamos ter falado e ouvido mais, arrepender-se de uma atitude imponderada no dia seguinte, aproveitar mal o que o dia tem para oferecer, não entender um conselho ou uma opinião, deixar um trabalho para fazer amanhã quando ele poderia ser feito hoje.
Sempre nos deparamos com alguma experiência faltante… Isso quando nos damos conta de que faltou algo…Uma palavra proferida em hora errada, a sensação de que faltou um beijo ou um carinho, o arrependimento por não ter seguido uma dica, a impressão de que não se aproveitou uma reunião entre amigos como deveria, ou de que não se ouviu suficientemente os avós, ou não se entendeu bem uma leitura.
Que mais falta? A resignação de um pedinte que não tem condições de usufruir de um bom padrão de vida ou a de um faxineiro de rodoviária que não pode abandonar um trabalho naquele momento em que vê vários turistas deslocando-se entre as cidades, ou o de um estudante que tem que decorar fórmulas chatas enquanto seus amigos estão curtindo no clube.
Falta, mesmo que não queiramos que falte. Falta também passar um recado, fazer uma ligação a um ente querido, escutar um murmúrio, entender uma mensagem, conhecer os pormenores de uma situação. A sequência inevitável de experiências faltantes nos abastece as esperanças de que um dia falte menos ou de que preenchamos as faltas que reconhecemos.
Em tudo pode faltar algo. Falta ler algum parágrafo da crônica esportiva, do horóscopo ou dos classificados. Não dá tempo. É curioso imaginar a situação nos casos em que o sistema digestivo funcione bem. Lembro de um amigo que uma vez disse: “Pow, eu sento, o bagulho desce, limpo e vou embora! Como conseguem ler o jornal nesta situação?”
Ainda, muitos não poderão ler este texto porque são analfabetos funcionais; outros tantos porque pularão esta seção para a seguinte, onde se narra emotivamente quem foi o vencedor do jogo de futebol do fim de semana passado; e outros porque não estão nem um pouco preocupados em saber o que falta.
Acho que aprendi o conto da experiência faltante. Eu digo que, por motivo de força maior, não tenho que concluir este tema. Já se previa que pudesse faltar algo.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em relações internacionais