Há três versões de Dilma Roussef para o consumo interno no mercado da imaginação política brasileira. O primeiro é a que versa sobre a mulher que não tergiversa sobre corrupção. O segundo é o da tecnocrata eficiente. E o terceiro é o da gestora rígida que bate na mesa, que faz e acontece, e deixa meio mundo tremendo de medo. As três são falsas. Não pela vontade das opiniões de A ou B. Quem as desmente – todas as versões – são os fatos. Veja bem, não se fala aqui das interpretações dos acontecimentos visíveis, mas sim da realidade concreta das coisas que acontecem no dia a dia.
Opinião
Fatiando Dilma
Dizer que Dilma não tolera os chamados mal feitos (palavra usada que significa roubo, jeitinho, tráfico de influência) é mentira absoluta. Até as emas do Palácio do Alvorada sabem que ela tem sido seletiva nos casos que abalam os alicerces da Nação. Há casos e casos. Quando se trata de escândalo que envolve gente muito próxima a ela – tal como o Ministro de Desenvolvimento de Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, o Advogado-Geral da União, Luiz Inácio Adams, e tantos outros -, cria-se um cordão de proteção inexpugnável que garante a impunidade do envolvido. Ou seja, Dilma protege os amigos e calcula o benefício que pode obter com a punição dos inimigos, mesmo que ele esteja dentro do governo, principalmente se for vinculado ao governo Lula.
Como tecnocrata eficiente – como costuma elogiar o ex-ministro Delfin Neto – trata-se de uma rematada bobagem. Dilma é insegura, tem dificuldades para usar língua portuguesa corretamente, manuseia com parcialidade os números, interpreta erroneamente as informações contidas nos próprios relatórios governamentais, e demonstra, na maioria das vezes, um pensamento tosco sobre a economia mundial. Ela só é tolerada devido ao nível de subserviência da burocracia brasileira, que gosta de se ajoelhar (e elogiar) qualquer pessoa que carrega uma insígnia de "autoridade".
Como gestora nem é preciso entrar em detalhes. Os resultados do PIB, a confusão criada em torno da contabilidade nacional( o que estimula o Zé da esquina a fazer o mesmo) e a desorientação existente em torno dos investimentos públicos e privados são mais do que provas de que dona Dilma não serve nem para administrar a própria residência.
A imagem de mulher rigorosa e que dá pitos a torto e a direito é um contrassenso. Só faz com que as coisas funcionem mal. Esse modelo autoritário de gestão é ultrapassado. O medo da gerentona que grita com seus ministros na verdade atua como elemento desorganizador da máquina pública. Se queres um monumento, olha em volta tchê…
O papo de que ela bate na mesa e grita só causa mais confusão. As pessoas de bom senso fogem de gente maluca com este perfil. A centralização administrativa tem como exemplo desastroso o nazismo e o stalinismo. Não funciona no mundo real. Só imbecis acreditam que quem grita é aquele que ganha.
Na verdade verdadeira o que está evidente (embora para a maioria do povo a ficha demore a cair) é que o marketing aguente até o momento em que as contradições dessa construção imaginária saia do controle e o País desperte do sono letárgico em que se encontra. E quando isso pode acontecer? Não tenho ideia. Mas à medida que se perceba que a redução do preço da energia será paga com o aumento da gasolina, e a inflação será superior ao patamar dos juros bancários, talvez com o tempo fique claro que tem coisa errada neste angu.
Alguém do governo poderá argumentar que o nível de emprego está bom, que o consumo está elevado, que o dinheiro destinado aos programas sociais flui como nunca, que o Governo tem caixa para aguentar qualquer tranco da crise internacional, que a população está otimista e satisfeita com a economia, mas o que embatuca a cabecinha de sujeitos chatos como esse locutor que vos fala é o seguinte: é só isso? Ficaremos amarrados ao mesmo projeto neoliberal dos anos 90 até os idos de 2020? Não se avançará um milímetro nas reformas necessárias para alterar a terrível desigualdade social? Não se fará nada para controlar máquina vociferante da corrupção? Não se implementará nada de novo para melhorar a saúde e a educação? Ficaremos assistindo impassíveis a derrocada de nossa infraestrutura? Enfim: manteremos tudo como está para ver como fica?
O governo da dona Dilma prenuncia em seus elementos essenciais que lá na frente as coisas vão piorar. Acho que ela se sustenta pelo fato de o fantasma de Lula continuar rondando por aí, ameaçando ressurgir nas trevas do mensalão onde se encontra. Mesmo assim sempre vem a pergunta fatal: e a popularidade da presidente? Respondo: é fácil "consruir" popularidade no Brasil. Mas para explicar isso será preciso um outro artigo. E não quero estragar o carnaval de ninguém.
*Dante Filho é jornalista