O ser humano tem seus ímpetos, instintos e paixões dos quais se livra com dificuldade e força de vontade. Há pessoas que carregam alguns impulsos negativos a vida inteira, enquanto outras colhem rapidamente resultados dos seus esforços e sentem uma serenidade compensatória. Eu não poderia introduzir o tema das fofocas sem o realismo que nos faz entender a natureza humana.
Como escrever sobre a fofoca sem contextualizar o que o ser humano tem que superar a fim de crescer nessa longa jornada? Difícil é explicar por que, no intervalo entre o primeiro parágrafo e este, tem tanta gente desperdiçando seu tempo fofocando no Brasil e no mundo. A maioria não mede as consequências enquanto coça o ego.
Tem gente que acredita que se mantém informada com a vigilância do que os vizinhos fazem, ou da briga de um casal da novela (até no plano da ficção se situam), ou da curiosidade que um acidente provoca quando as pessoas apinham-se para ver o que aconteceu e não movem uma palha para apoiar ou solidarizar-se.
Todos já fomos vítimas de fofocas. Uns mais, outros menos. Quando não a tenhamos feito. Novamente: uns mais, outros menos. Convém fazer a gradação.
Logo surgiu a expressão “fofoca maldosa” para diferir de outro jeito aceitável e legítimo de falar dos outros. Eu não trago nem um modo nem outro. São modas distintas de um mesmo mal. Pelo menos evito. É igual aquela história do “namoro sério”, que, se não for sério, poderá ter traição.
Não podemos negar que um pouco de fofocas faz bem e nos identifica com e em algum grupo. Fulano saiu com tal pessoa, enquanto a outra foi demitida e o terceiro teve problemas com o seguro médico. É só lembrar do acréscimo que se tem na brincadeira do “telefone sem fio” e de como, no fim, sequer se conhece o responsável pela distorção da frase.
O problema é quando se distorce demais. E confesso que não agradam aqueles que se julgam os informados e se fazem substitutos da revista Caras. Os fofoqueiros se estancam e têm dificuldade de melhorar de vida e sair da mesmice. Pode ver. Tropeçam em sua credulidade ingênua.
Nunca é demais recordar aquele dito que propõe degraus de nobreza desde as mentes pequenas, que discutem pessoas, as mentes medianas, que discutem acontecimentos, até as mentes grandes, que discutem idéias. Se não é recordação, é aprendizado.
Os mais nobres poderão incluir pessoas em seu rol de assuntos, mas em admiração, elogio ou crítica construtiva. Para isso estamos aqui. Se fecharmos nossos livros da vida, perderemos a oportunidade de que os outros nos ajudem a reconhecer as virtudes e os erros. Só não vale viver em função da vida alheia.
O risco é o de expormos tudo numa vitrina como se fôssemos manequins. Fofocar pode causar feridas. O mais prejudicado, contudo, é o autor da ação. A única fofoca que eu recomendo é divulgar este artigo para alguém. Não tem problema. É por isso que se diz que tem fofoca que não é maldosa.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Franca-SP).