O meu pai, doutor Manoel de Oliveira Gomes, exercia as suas funções de Promotor de Justiça na Comarca de Três Lagoas quando foi cruel e covardemente assassinado no dia 21 de março de 1980. O homicídio ocorreu em razão do exercício da sua atividade funcional. Não conheci meu pai, pois quando do seu falecimento eu não completara sequer oito meses de vida. Por meio de inúmeras pessoas soube que ele sempre exerceu com dedicação esta e outras funções públicas.
Tomei conhecimento que o prédio do Fórum de Três Lagoas, último local de trabalho de meu pai, poderá ser demolido. A notícia trouxe-me angústia.
Não posso omitir, como cidadão três-lagoense e como filho, o meu repúdio à tal pretensão.
Como cidadão, porque o referido prédio faz parte da história de Três Lagoas, por ter sido o primeiro a ser construído em nossa cidade, há quase trinta e nove anos para ser Fórum, como já foi escrito nas páginas deste Jornal. A sua construção certamente custou volumosos recursos públicos obtidos por meio do pagamento de impostos, frutos do trabalho de todos e que deve ser considerado. Portanto, que ele continue servindo às atividades ligadas à Justiça e à sua administração, ou em última instância, à alguma outra voltada para o interesse da comunidade.
Como filho, porque o Fórum que querem destruir, guarda a história de vida de pessoas que nele trabalharam, ou trabalham no exercício de suas atividades funcionais. No que se refere ao meu pai, ali ele trabalhava quando lhe tiraram a vida, não no sagrado local do seu trabalho, mas em razão delas, como ficou dito.
Para celebrar a sua memória, entre outras homenagens, a sala do Tribunal do Júri recebeu o seu nome (21 de março de 1981). Posteriormente foi sancionada a Lei Estadual nº. 1642, de 27/12/1995, denominando “Manoel de Oliveira Gomes” o prédio do Fórum do Município de Três Lagoas (local onde por algum tempo trabalhei). O nome do meu pai jamais foi colocado em destaque no referido prédio, normalmente na sua entrada principal. Repousa, quase oculto, como denominação da Sala do Tribunal do Júri. A homenagem, que deveria abranger o prédio do Fórum no seu todo, restringiu-se a uma sala.
A memória reflete o vivido. Destruí-la significa nos tornarmos ignorantes de nós mesmos (no caso, em razão da descaracterização da história de nossa cidade). Deste modo, que ela seja preservada como elemento de unidade, isto é, como objetivos comuns que um povo busca alcançar. Que seja guardada e respeitada a história de vida – e morte – de pessoas. O Fórum é histórico e não deve ser demolido, mas sim protegido.
Guilherme Augusto Arão Gomes é pianista