Eu não me chamo Manoel, não moro em Niterói nem em São Paulo, mas acho esse projeto do governo José Serra de proibir radicalmente o fumo no Estado muito esquisito.
Ok. A intenção é boa e combina com a condição de ex-ministro da Saúde e de velho militante antitabagista de Serra, mas parece mais um ato de vontade do que um ato efetivamente administrativo.
Uma espécie de picuinha muito semelhante àquela do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que tem mais de 1m90 e engrossou a voz para exigir mais espaço entre os assentos dos aviões para acomodar os grandalhões como ele. (O que, aliás, até agora não deu em nada).
O projeto proibindo o fumo pode ser votado a qualquer momento pela Assembleia Legislativa de São Paulo, onde o governo tem uma folgada maioria. Logo tende a ser aprovado. Mas o caso não fica resolvido. Ao contrário, é aí que vai começar de fato o problema.
Vejamos um estrangeiro que gasta fortunas para visitar ou fazer negócios no Brasil e acaba obrigado a fumar do lado de fora do hotel, sabe-se lá onde. Ou um adepto da Umbanda e do Candomblé, impedido de exercer livremente os rituais da sua religião. Ou o sujeito que mora em condomínios e vai perder a privacidade na própria casa. Sem falar em bares e restaurantes, onde a turma do cigarro bebe sua cervejinha.
Sei não, mas essa é daquelas leis que agradam uma parte da população, irrita outra e tem uma forte possibilidade de simplesmente nunca entrar em vigor na prática. Porque é a velha história: não se mudam hábitos arraigados com canetadas políticas. Por mais que elas tenham bons argumentos e os pulmões dos não-fumantes agradeçam.
Sem contar aquele "detalhe": com a expectativa de um PIB beirando a zero, queda de 20% nas exportações, tremelique nos índices de emprego, o governador do principal Estado do país deveria ter, sinceramente, mais o que fazer. Aliás, além de ex-ministro da Saúde, ele é economista, lembra?
Eliane Cantanhêde é colunista