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Governo pode prejudicar autonomia do Copom

As investidas da presidente Dilma Rousseff poderão prejudicar a autonomia do Copom, já que são exigidas maior transparência nos votos dos participantes com relação às modificações relacionadas à Taxa Selic. Não é a primeira vez que o governo, de maneira clara, pressiona o mercado financeiro para baixar os juros. Isso cria constrangimentos em sua própria equipe, o Banco Central, e os quepossuem investimentos públicos, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Agora, a Febraban defende o interesse dos bancos privados na manutenção de algumas taxas.

Como forma paliativa de demonstrar que o governo quer cumprir sua parte, ele busca, através de outros mecanismos, compensar a eventual perda que os bancos privados terão em aderir à nova política, alterando a remuneração da poupança para que os investidores (pessoas físicas) não enxuguem os seus recursos. Sem contar que é isso que será utilizado, em grande parte, para financiar a dívida públicainterna, que cresce mensalmente em virtude de o próprio governo não fazer alição de casa de reduzir os seus gastos.

Ano de eleições municipais, problemas críticos na saúde, déficit contínuo da previdência, corrupção por todos os lados e atraso nos investimentos para a Copa do Mundo formam o cenário que estamos vivenciando e que gera desgastes e aumento no endividamento público. Infelizmente, essas ações fazem com que a população possa acreditar que o governo está sem alicerce e andando na corda bamba, trazendo descrédito e problemas futuros na continuidade de uma política mais austera.

A redução dos juros sobre os financiamentos para pessoas físicas e jurídicas pode ser apenas um mecanismo da política, não resolvendo, de maneira definitiva, os problemas que assolam o País há anos. A redução das taxas de juros sobre os diversos financiamentos pode ser apenas nominal e não efetiva, ou seja, nem todos terão esse privilégio na busca por reduções. Isso dependerá de uma série de fatores, como reciprocidade nas transações bancárias, qualidade da ficha cadastral, garantias efetivas oferecidas etc. Somente alguns poucos privilegiados estarão nessa situação, ou seja, o banco para ofertar taxas de primeiro mundo será mais duro nas operações e somente oferecerá aos quais ele tem segurança de recebimento em 100% da operação. Caso contrário, o grau de risco fará com que as taxas sejam maiores, e não adiantará os bancos públicos fazerem diferente, cobrando juros baixos de quem não paga, porque, no final das contas, a inadimplência reverterá em grande fatia no aumento do endividamento público, além do empobrecimento dos mais endividados.

A política tem de ser diferente. O governo precisa dar educação financeira à população, ou seja, gastar apenas o que se ganha e aprender a gerar uma gordura para investimentos pontuais e em necessidades especificas. Precisa haver responsabilidade nos gastos, e um dos mecanismos que as pessoas endividadas têm é a negociação com os bancos e a portabilidade de crédito – desde que este não se transforme em “presente de grego”, fazendo com que o cliente assuma outras responsabilidades, como cartões de crédito, contratação de seguros, tarifas bancárias mais caras etc.

Está na hora de cada um aprender a gerir seus recursos de modo responsável e, no caso do governo, dependerá de um trabalho mais eficaz, de maior transparência e da fiscalização da população como um todo. Está na hora de o brasileiro parar de achar que é feliz somente porque tem novela, carnaval e futebol…
 
*Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis daFASM (Faculdade Santa Marcelina).