Em tempos de medidas de emergência, há mais de 30 anos, quem se destacava era o general Newton Cruz. Hoje, na emergência atual, quem se destaca é Isaac Newton. É a lei da gravidade que vai decidir esta emergência. Os acontecimentos que conduzem o governo despencam a cada hora cada vez mais para o fundo. Os movimentos do governo só agravam a situação. Lula e Dilma parecem dois abraçados na areia movediça. A cada momento aparecem mais razões para o país se surpreender com o tamanho da debacle moral e econômica em que está atolado.
Dilma e Lula somam derrotas no Supremo. Fazem declarações que desafiam a Justiça. As pedaladas que apareceram no pedido original de impedimento se tornaram secundárias ante a sucessão de fatos. Dilma confirma a conversa telefônica com Lula ao tentar explicar o inusitado termo de posse portátil. Ao dar posse a ele comete obstrução da Justiça. Ao nomear novo Ministro da Justiça, afronta a Constituição; ao manter Mercadante ministro, quando ele cometeu o mesmo crime que levou Delcídio à cadeia, deixa cheiro de que foi a mandante da tentativa de calar o senador. E aparecem os dinheiros da campanha de sua reeleição. Isso sem contar as delações premiadas que já conhecemos e as que vão aparecer.
A única vitória de Dilma até agora foi sobre os jornalistas que aceitaram a pauta de discutir a legalidade das escutas em lugar do conteúdo das conversas. Dilma argumenta que se escutam a Presidente, pior será com o cidadão comum. É um sofisma, porque a privacidade do cidadão comum é inviolável, mas a de quem exerce função pública, é relativa. É inviolável o banheiro, o quarto de dormir, mas não são invioláveis os contatos entre pessoas públicas, desde que não se refiram a temas de segurança nacional. Porque o que os políticos dizem na intimidade é mais importante e mais verdadeiro do que o dito nas tribunas para o público ouvir. Na intimidade é que soltam a língua e o que pensam e o público eleitor e contribuinte tem o direito de saber. E nenhum juiz que tiver essa verdade nas mãos tem o direito de ocultar. Foi o que fez o juiz do caso Carlinhos Cachoeira quando recebeu conversas do investigado com o senador Demóstenes Torres. Na época, o atual advogado do governo, então Ministro da Justiça, apoiou a decisão de revelar. E o senador perdeu o mandato.
Agora é esperar a tramitação do processo. Tudo dentro da lei. Não vai ter golpe porque as Forças Armadas estão quietas e dentro de suas funções constitucionais. A decisão caberá aos poder judiciário e ao poder legislativo, como manda a Constituição. A comissão especial da Câmara vai examinar o pedido sobre as pedaladas – e decidiu não adicionar nada para evitar demora. Mas na cabeça dos que vão votar e decidir, além das pedaladas, estarão as surpresas que nos têm sido oferecidas a cada dia pela Polícia Federal, o Ministério Público e as falas de Lula e Dilma.