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Opinião

GREVE DAS FEDERAIS: MUDA-SE O PENSAMENTO, MUDA-SE O PLANEJAMENTO

No Brasil, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e as universidades sempre tiveram uma relação de colisão

*Karina Fernandes Daniel e Marçal Rogério Rizzo

No Brasil, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e as universidades sempre tiveram uma relação de colisão! De um lado, o Governo Federal representado pelo MPOG, que financia, controladamente, universidades públicas, objetivando formar cidadãos e especialmente profissionais, que futuramente trabalharão, moverão o mercado e gerarão mais “riquezas” para o país. Ao menos assim deveria ser.  Por outro lado, temos as universidades, que buscam aprimoramento na infraestrutura, melhoria na qualidade do ensino e aprendizagem e a manutenção e avanço no tripé ensino, pesquisa e extensão. O fato é que esse amálgama necessita cada vez mais de recursos financeiros. 

Essa relação se torna insustentável quando, por algum motivo, o MPOG necessita fazer algum ajuste fiscal e reduz os gastos na área de educação, e, por mais incrível que pareça, é sempre um dos primeiros setores em que ele corta o orçamento. As consequências são avassaladoras, já que as universidades, por sua vez, não conseguem manter a infraestrutura de forma adequada nem o ensino com a devida qualidade e, em muitos casos, tem que findar projetos de pesquisas e extensão, eclodindo assim o conflito entre Governo Federal e universidades, ou seja, dá-lhe greve.

Vale destacar que a greve representa grande preocupação para ambos os lados. Há uma grande estagnação intelectual e profissional quando a greve se instaura nas universidades e que se reflete, mesmo que a longo prazo, nos planejamentos governamentais. Vivemos a greve e, com ela, vem a pausa significativa na produção acadêmica do país: pesquisas são interrompidas, intercâmbios cancelados, descobertas científicas provavelmente adiadas, atrasos na vida acadêmica de profissionais e dos alunos e, por fim, os dias letivos serão repostos em férias e feriados.

O fato é que mesmo diante de tantas perdas coletivas, a greve é o único meio que os profissionais da área têm para demonstrar seu descontentamento diante das tantas atrocidades que a educação vive há décadas. Outro ponto é que este Governo tem-se mostrado cheio de controvérsias e descasos com a área da educação. Assim, pode-se dizer que se tem tornado insuportável ver que o slogan do segundo governo da Presidente Dilma: “Brasil Pátria Educadora” tem mais ecoado como piada de mau gosto do que com a realidade vivida.

Uma suposta solução para esse conflito caracteriza-se por uma negociação entre as partes, ou seja, entre o MPOG e os representantes da greve. Não se pode, entretanto, reduzir uma greve que paralisa o país todo em questões acadêmicas a uma simples negociação de interesses. A greve, por sua vez, tem considerável força coativa, que pressiona o Governo Federal a dar a devida importância para a educação.

Todo conflito gera alterações, seja em um âmbito restrito às partes, seja generalizadamente. A julgar pelos números de universidades em greve de todo o Brasil, caso o conflito seja resolvido, atendendo integral ou parcialmente as solicitações, esperamos conseguir identificar mudanças sociais significativas dentro da esfera social. Depois de uma greve, a parcela da sociedade que participou ativamente se transforma: a maneira de pensar não será igual, as ideologias não serão as mesmas. O que já se sente é que não serão aceitas condições subalternas e o MPOG irá enfrentar dias conturbados.

Por tudo isso, o que os políticos devem lembrar é que uma greve nada mais é do que “um grito dos descontentes”, que, neste caso, ocupam um setor que deveria ser tratado como prioritário para mudar, de verdade, o Brasil. O país precisa de profissionais qualificados, produtivos e, mais que isso, pensantes e críticos. Carecemos de gestores de qualidade e, sobretudo, de políticos de qualidade. O filosofo alemão Immanuel Kant já dizia que: “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.  Salvemos a Educação enquanto há tempo!