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Opinião

Hausto de mediocridade

O idioma é um recurso cultural que devemos resguardar e valorizar, visto que o português no Brasil está ameaçado pela desconsideração de seus falantes. Talvez pelo fato de o poder ser (quase) imperceptível e invisível.
Nenhuma colônia existe sem a renúncia dos colonizados. Por mais rendida que aparente, a submissão completa de um povo ocorre na derrota do último homem. Não haveria, caso contrário, heróis na civilização brasileira, como Tiradentes.
A aplicação irresponsável de estrangeirismos tem situado o Brasil como um país de língua inglesa de terceira classe porque os EUA já são de segunda.
Tão logo surge uma palavra nova em informática ou publicidade, inclusive nas relações mais rotineiras, contamos com o termo correspondente em português. É verdade que os idiomas são dinâmicos! Assim como assumem com naturalidade que, por este argumento, um termo estrangeiro pode-se agregar à nossa língua, esta também tem a capacidade de criar o seu próprio.
Abandonamos, contudo, expressões similares em português, que são por vezes mais bonitas que as inglesas ou ao menos tanto quanto, em prol de um vocabulário forâneo e desmerecedor de nosso idioma.
O estrangeirismo desnecessário ou excessivo, portanto, denuncia o desvio das normas e do vocabulário de português que amiúde se deve ao desconhecimento.
O funeral do idioma português no Brasil é um sintoma de que até o que os tupinicas tínhamos de mais valioso – a cultura e a criatividade – tem sido substituído pelo "chique" ou o "padrão internacional" do francês, o inglês ou o italiano.
Ainda dá tempo, no entanto, de frearmos esta tendência dilacerante.
Justifica-se por que Portugal foi o país que ofereceu maior resistência à reforma ortográfica, que visa a simplificar a grafia e unificar as regras do idioma. Até para o termo "Links", do internetês, eles usam "Ligações". Que respeito!
Apesar de a mudança mais considerável incidir no lado de Portugal, os portugueses hesitaram em aceitar uma reforma ortográfica vinculada a país que se tem convertido numa Gringolândia de terceira categoria, o Brasil.
Este é o momento de aproveitar a reforma ortográfica que vigora desde janeiro de 2009 para fortalecer o idioma português em vez de entregá-lo a falcões famintos.
Brasil, Portugal, Guiné Bissau, Angola, Moçambique, São Tomé, Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste são contemplados com a chance de padronizar o idioma português, tão belo e prodigioso.
Quando bem empregado, o idioma português demonstra a autonomia e a riqueza culturais de seus falantes. A leitura habitual e o uso de dicionário engrandecem a experiência e o vocabulário, conquanto duas ou três páginas diárias.
Não é à toa que cresce o interesse no aprendizado de português em países que querem estreitar as relações culturais, econômicas e políticas com o Brasil.
Sejamos coadjuvantes dessa troca benéfica e proveitosa. Defendamos nosso idioma, respeitemo-lo e promovamo-lo antes de que até disso se riam os cidadãos de países ricos que falam dos "terceiro-mundistas".
Tupinica tem mania de fazer piada de português, mas convenhamos: eles nos impuseram seus donos de engenho, sua língua e sua religião. Ainda levaram o ouro.
Frente a este passado que tende a repetir-se sob o domínio de outra metrópole, que horizonte se nos abre?
Enquanto não nos concentrarmos na preservação da riqueza cultural e na sintonia daquilo que podemos manifestar como identidade soberana, seguiremos os amos intermitentes, que ora são daqui ora dali.
A grafia antiga continuará aceita até dezembro de 2012. Prezemos para que a integridade do idioma português não esteja somente em rodapé de livros didáticos.
A construção de um país digno e de uma comunidade de países de língua portuguesa demanda a sua participação, caro leitor e benfeitor.
Os países hispano-americanos interagem muito melhor que os de idioma português com seus discos, filmes e livros, para citar bens culturais que circulam em espanhol.
O Brasil dá as costas a seus irmãos legítimos da América Latina.
A dianteira curva-se, porém, a estrangeirismos espúrios.

Bruno Peron Loureiro é bacharel em Relações Internacionais