Quando ligo o televisor, tenho o costume de sintonizar um canal aleatório e, a partir dele, transitar de um a outro até que encontre algum que agrada. Raras vezes me importa se é público ou privado, se sua audiência é alta ou baixa. Busco programação educativa. Ou de uma educação que preste. Quase sempre, no entanto, estaciono nos mesmos canais e, logo, eles acabam sendo ponto de partida na próxima vez que emprego o “zapping” ou trafego entre as sintonias.
Aprendi a sentir um certo dissabor quando a programação de algum canal – aqueles notoriamente comerciais – negligencia a diversidade brasileira e mundial, não oferece conteúdo que promova a democracia e estabeleça o debate, abafa opiniões distintas, e sustenta posicionamentos políticos unilaterais na sua grade de produtos. É! Produtos. Por isso, passei a considerar a televisão comercial com muita suspeita.
Sugiro que diversifiquemos o consumo de programação entre as ofertas disponíveis, que incluem a televisão comercial com maior conteúdo educativo, a televisão pública e a estatal. A TV Cultura de São Paulo, a TV Brasil, a TV Câmara, a TV Senado, canais universitários e regionais convidam-nos a considerar aspectos da sociedade que não se representam nas demais por comodismo ou interesse de grupos econômicos poderosos.
Mais precisamente, recomendo uma olhadela na programação da TV Brasil, que pertence à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Esta congrega imprensa, rádio e televisão desde um orçamento estatal, apesar de que seu conteúdo elabora-se com base no interesse público e com independência ideológica do governo, o que se reforça por seu Conselho Curador e Ouvidoria. A televisão pública mostra um conteúdo mais favorável à cidadania.
A TV Brasil transmite o sinal desde dezembro de 2007 e, devido às enormes discrepâncias em qualidade de conteúdo com relação aos grandes canais abertos e comerciais, tem recebido críticas desmerecedoras e muitas das quais são infundadas. Uma delas é de que é a TV de Lula. Será por que a TV Brasil mostra rincões do nosso país que outras emissoras nem sabem que existem? A televisão pública tem a virtude de equilibrar a balança da qualidade de conteúdo.
Ademais, em vez de distrair o povo brasileiro com novelas elitistas ou que descrevem idilicamente a Índia, cujo país concentra riqueza e pobreza tanto quanto o nosso, por que se investe pouco em relatar os indígenas, os quilombos, entre outros grupos marginalizados do Brasil? Por que, em vez de tachar de ditadores alguns governantes latino-americanos, não contam seus feitos em reduzir a pobreza? Os fatos polêmicos suprimem qualquer noção construtiva.
A TV Brasil mostra em maiores detalhes as caras dos brasileiros. Não a cara ou o estereótipo de como deveríamos ser. Este empreendimento público é um dos esforços para descentralizar a atenção de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, como se o país se resumisse nestas capitais. Sua receita é elaborada pelos brasileiros para ser digeridas por nós mesmos. Não surpreenderia que alguns de seus programas nos fizessem perguntar: “Poxa, essas imagens foram captadas no Brasil?”
Bruno Peron Loureiro é analista de relações internacionais