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JBS-Friboi: O Brasil para o mundo

Uma das grandes frustrações que nutria, enquanto estudante de Administração no início da década de noventa, era a falta de exemplos de empresas e empresários brasileiros. Wal-Mart, IBM e GE eram os casos estudados. Sam Walton, Lee Iacocca e Jack Welch nossos ídolos distantes.
Estávamos em outra época, as importações recém liberadas, o fim da reserva de mercado da informática, a invasão de quinquilharias Made in China, carroças motorizadas e carros russos vendidos como a mais pura inovação. Vivíamos em uma aldeia – não global – mas local, aceitando espelhos e colares de segunda categoria.
Os tempos mudaram, felizmente para melhor, e hoje podemos analisar casos de empresas e empresários genuinamente verdes e amarelos. Vale, Brasil Foods, Fibria e JBS-Friboi representam esta nova face. Agnelli, Fontana, Secches, Ermírios de Moraes e Zé Mineiro, seus representantes.
A compra da americana Pilgrim’s Pride e do frigorífico Bertin pelo grupo JBS-Friboi, ocorrida na semana passada, pode ser comparada aos melhores “cases” de Harvard, MIT ou Insead, envolvendo estratégias de diversificação, integração vertical, economias de escopo e de escala.
O grupo, que começou como um pequeno açougue, sempre esteve relacionado ao abate de carne bovina. Diversificou-se, adquirindo a Swift e recentemente a Pilgrim’s Pride. Suínos e agora aves são parte da mesma família. Brasil, Argentina, Itália, Estados Unidos e Austrália ganharam um pouco do sotaque goiano.
Barreiras fitosanitárias, febre aftosa, doença da vaca louca, gripe aviária e Real valorizado, assustam hoje um pouco menos. Ameaças tornam-se oportunidades. Imagine a manchete: “Empresa brasileira vende carne para a Europa através de suas operações na Austrália”. Insólito, porém aconteceu.
Ameaçados sentem-se os pecuaristas, com a idéia de que quatro em cada dez bois abatidos passem por um frigorífico do grupo JBS-Friboi. Processo análogo ocorreu com a criação da Brasil Foods. A chance de encontrar em seu freezer, pizzas, massas congeladas e carnes industrializadas do Grupo são no mínimo sete em cada dez. Criadores de frango também são mais dispersos e menos influentes, sem lobby em Brasília. A briga nas gôndolas ganha mais um concorrente. Com a Bertin, o grupo JBS-Friboi entra no setor lácteo com as marcas Leco e Danúbio, além da centenária Swift, conhecida pelos alimentos enlatados, em franco processo de renovação. A estratégia de participar de elos anteriores ou posteriores da cadeia produtiva, denominada integração vertical, traz maior controle e lucratividade à operação, afinal os lucros ficam dentro de casa.
E já que estamos falando de mudanças, acredito que há ainda muito por vir neste setor. Frigoríficos de médio e pequeno porte, sem economias de escala para enfrentar os novos grupos, deverão ser comprados. A Brasil Foods, após zerar sua posição de caixa, deverá acelerar seu processo de internacionalização, seja através de marcas próprias ou indo as compras. A JBS além de fortalecer-se nas gôndolas, buscará diversificar-se em suínos e aves, reduzindo o risco e compartilhando atividades. Atividades definidas como economias de escopo.
A briga, hoje local, pode tornar-se global. Quem sabe assim não exportemos somente commodities, mas também cases de sucesso em estratégia, comprovando a capacidade de gestão e o espírito empreendedor brasileiro, forjados durante décadas de incerteza e crises. Quiçá Zé Mineiro, Ermírios de Moraes, Fontana e Secches tornem-se algum dia, ídolos distantes neste mundo cada vez mais globalizado.

Marcos Morita é mestre em administração de empresas e professor das disciplinas de planejamento estratégico e gestão de serviços na Universidade Presbiteriana Mackenzie