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Jeitinho brasileiro!

O Brasil sempre foi considerado por muitos um país repleto de belezas naturais e com um povo feliz e festivo. Apesar de todo esse cenário de maravilhas e alegrias, há, no entanto, muitos desafios a serem vencidos que, ao longo dos tempos, vêm pondo em dúvida a capacidade de uma parcela dos nossos governantes e parte da classe política para resolvê-los ou ao menos minimizá-los.
    Infelizmente, o que se observa é que essa capacidade muitas vezes é limitada aos interesses pessoais ou de determinado grupo de pessoas que o político representa.  Mas e a população? O que esperar? A população aguarda respostas na forma de ações dessa classe que, em princípio, deveria representá-la e atentar para dificuldades e problemas que afligem a coletividade, mas, na maioria das vezes, isso não acontece. Ao invés disso, ampliam-se ainda mais os desafios a serem enfrentados pelo país, como é o caso da realização da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e das Olimpíadas em 2016. Aqui vai mais um questionamento: será que o país está preparado para sediar tais eventos?
    Esse questionamento, entre vários outros que têm relação direta com a capacidade de parte da classe política brasileira em legislar e executar ações de caráter prático à sociedade, estimula-os a dar uma resposta a todos aqueles que estão descrentes, surgindo, assim, o “jeitinho brasileiro”. Uma forma de adaptação momentânea que se transforma na “única” possibilidade que a classe política, na maioria das vezes, encontra para dar respostas ao povo brasileiro.
    O “jeitinho brasileiro” sempre está na moda, sempre resolve praticamente tudo. Uma prova de sua eficiência refere-se aos debates que vêm ocorrendo entre os políticos a respeito do caráter emergencial que se apresentou com os atrasos nas obras de infraestrutura e estádios para a realização da Copa de 2014.
Isso fez com que o partido que “sempre” adotou uma política de não privatização alterasse seu discurso habitual, buscando privatizar os aeroportos que receberão o maior fluxo de pessoas durante a realização do evento. A falta de espaço para atender aos passageiros, o número insuficiente de vagas para pouso e permanência das aeronaves, e ainda a falta de ônibus suficientes para conduzir as pessoas entre a sala de embarque e os aviões será “potencializada” com a realização da Copa do Mundo. Será?
Mas o que seria essa privatização? A questão tem que ser respondida de forma convincente. Pelo que vem sendo apresentado na mídia, nada mais é do que a venda, por meio de leilões públicos, de uma estatal para uma instituição privada, geralmente financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Isso mesmo: financiada pelo próprio dinheiro público.
Será que essa urgência em privatizar os aeroportos internacionais de Brasília, de Viracopos, em Campinas, o de Guarulhos, em São Paulo, e o de São Gonçalo do Amarante, em Natal, realmente trará benefícios ou servirá apenas como uma maquiagem para a Copa do Mundo? Ou então para enriquecer um determinado grupo? Ou ainda para demonstrar mais uma vez a “capacidade” dos políticos em resolver situações utilizando-se do jeitinho brasileiro, criando puxadinhos, entre outras adaptações provisórias, mas que se tornaram perpétuas? 
Se todas essas ações forem bem sucedidas, passamos de usuários para clientes, pois o intuito da empresa privada é a fidelização por meio de melhorias no sistema, como investimento em tecnologia, entre outras, para atender ao público. Por outro lado, se for feita de qualquer forma, a privatização poderá prejudicar ainda mais as pessoas que utilizam esse meio de transporte, pois os serviços prestados não serão de qualidade e nem terão preços justos!
Outro problema nisso tudo é o interesse das empresas privadas somente nos maiores aeroportos. Qual atitude o governo pode tomar em relação ao tráfego dentro de seu próprio país? Não pensam em incentivar o turismo, que seria uma fonte de renda e de movimentação de pessoas entre os aeroportos menores?
Em suma, as atitudes da classe política devem ser tomadas, não “para inglês ver”, mas para trazer benefícios reais para o povo brasileiro. Chega do jeitinho como solução a todos os problemas brasileiros e de improvisações para dar respostas às pessoas e provar a “capacidade” dos políticos do país.

Marcela Machado Zambon é acadêmica do curso de Administração da UFMS

Marco Aurélio Batista de Sousa é contador e professor doutor da UFMS