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Jornalista, profissão de risco.

Jornalistas censurados; jornalistas condenados na Justiça; jornalistas presos no exercício da profissão; jornalistas mortos por milícias. Quando o jornalismo vira manchete, algo ruim e perigoso está no ar. Nessa situação de risco encontram-se muitos profissionais de imprensa em diversos países, inclusive na América Latina. Três casos chamam a atenção pelo retrocesso: Venezuela, Argentina eEquador. Em todos, o argumento do poder para desferir golpes na mídia e em seus profissionais é o mesmo: a imprensa estaria sendo usada pela oposição para atacar o governo e manipular a população. Neles, tenta-se, com maior ou menor sucesso, estatizar os meios de comunicação, concentrando no Executivo a prerrogativa de produzir e disseminar notícias.

Na Venezuela, o governo de Chávez empreendeu uma progressiva revogação das concessões de comunicação do setor privado, deixando à míngua a imprensa livre do país. Uma lei venezuelana que impede falar mal do presidente em público mostra bem a que ponto chegou a censura imposta por Caracas.

Na Argentina, a família Kirchner, desde o período de Nestor à atual presidência de Cristina, o vilão escolhido foi o jornal El Clarin, e a batalha da Casa Rosada para fechá-lo alcançou a vida privada de sua proprietária, acusada de ter adotado filhos de desaparecidos políticos no país. A estatização da propriedade do papel-jornal ameaça a independência da mídia privada argentina.

Ao contrário da Venezuela e da Argentina, onde a mão pesada do Executivo se faz sentir, com medidas administrativas ou legislativas, no Equador, recentes vitórias do governo na justiça – dentro da moldura democrática – impuseram vultosas indenizações contra jornalistas e meios de comunicação que incomodam o governo de Rafael Correa, cujas intenções de estatizar a mídia estão em curso em projeto de lei no Congresso.

Embora distintos em grau e métodos de cerceamento, os três casos indicam a tendência governamental de limitar o trabalho da imprensa na região, situação que vem sendo denunciada pela Sociedade Interamericana de Imprensa, pela OEA e pelas ONGs de direitos humanos. Sob risco, o jornalista latino-americano enfrenta dias difíceis.
 
* Gilberto Rodrigues é professor do curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina, foi professor visitante da Universidade de Notre Dame (EUA), doutor em Relações Internacionais pela PUC-SP, mestre pela Universidad para La Paz (ONU/Costa Rica) e pós-graduadopela Universidade de Uppsala (Suécia).