O consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez pode provocar alterações físicas, cognitivas e comportamentais irreversíveis nos bebês – eis aí uma recomendação que deveria constar dos rótulos de garrafas e latas que circulam pelas baladas. Reavivar o debate sobre a Síndrome Fetal Alcoólica foi o trunfo de Isabela Molina Silva e Andressa Fernanda Augustin, estudantes de psicologia da Universidade Estadual de Maringá/PR, que venceram o VIII Concurso Nacional de Monografia, promovido pelo CIEE em parceria com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).
O tema escolhido pelas vencedoras ganha relevância, quando cotejado com reportagem publicada pelo Diário de S.Paulo em 19 de junho. Pautada por pesquisa da Pontifícia Universidade Católica, a matéria revela que cresceu em 107% o número de pacientes na faixa etária de 10 a 18 anos que recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS) à procura de cura para o alcoolismo. A repórter Cristina Christiano ilustrou a matéria com o caso de Roberto (nome fictício) que, aos 15 anos, já sentia os efeitos do álcool tanto no seu rendimento escolar quanto no relacionamento com os pais. As bebidas foram a porta de entrada para drogas mais fortes e uma vida de criminalidade que culminou com o acidente de carro que matou toda sua família. A extrema facilidade na compra das bebidas, a tolerância social para seu consumo, a publicidade escorada no carisma de artistas e jogadores de sucesso e, muitas vezes, o exemplo dos pais são fatores que tornam o alcoolismo a face mais perversa do consumo de drogas lícitas, que vem ceifando cada vez mais o futuro e vidas entre nossa juventude.
Há tácita concordância na condenação do uso de drogas ilícitas, como a cocaína, o crack e tantas outras. E o mesmo, após décadas de campanhas, vem ocorrendo em relação ao fumo, outra das drogas lícitas, que felizmente está sendo banida de quase todos os ambientes, com amplos benefícios para a saúde da população e alívio dos serviços de saúde. Muito já foi feito, mas muito mais está para fazer, e é a consciência dessa responsabilidade que move o CIEE a coordenar a campanha antidrogas nas universidades, que em oito anos já contabiliza 60 seminários e oito premiações a estudantes. Afinal, informação – e formação – é a grande barreira que separa as estudantes Isabela e Andressa do jovem Roberto.
Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola – CIEE, da Academia Paulista de História – APH e diretor da Fiesp