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Opinião

Lições do professor Delfim

Delfim está certo quando diz que nunca faltou demanda para a indústria

Roberto Macêdo *

 

Em momentos de turbulências conjunturais, sempre procuramos, em nossa empresa, ouvir pessoas referenciais da economia brasileira, a fim de enriquecer nossas percepções e entendimentos. Com esse propósito, por diversas vezes tivemos a honra de contar com as abalizadas análises do professor Delfim Netto. Em agosto, ele fez uma palestra com sobre as “Perspectivas da economia brasileira”, a diretores de uma importante empresa paulistana, que reforçou nossas convicções de que o Brasil já superou grandes crises no passado e que é forte o suficiente para sair da atual.

Um dos pontos mais importantes abordados por ele diz respeito à necessidade de se investir para melhorar a produtividade, considerando que o aumento do consumo das famílias dirigiu-se em grande parte para os produtos importados.

Delfim está certo quando diz que nunca faltou demanda para a indústria, o que tem faltado mesmo é demanda para a indústria nacional. Os subsídios ao consumo teriam acabado por beneficiar a indústria estrangeira em detrimento da indústria brasileira.

A essa tendência de declínio industrial e de grande expansão do consumo de importados, soma-se o aumento do déficit público a partir do ano passado. Os dados apresentados pelo professor Delfim demonstram que estamos gastando hoje 7,9% do PIB com juros, o que, como ele afirma, é bom para os correntistas e ruim para quem produz, reduzindo a capacidade de investir, em um cenário onde as finanças, embora fundamentais para o crescimento, estão sufocando a produção.

A crise atual, associada também aos estragos deixados pela última eleição presidencial, segundo o professor, tem parte de suas causas no controle artificial que foi feito dos preços administrados – a exemplo dos combustíveis e da energia – e, como já é consenso, pelos desarranjos políticos comprometedores do equilíbrio emocional dos brasileiros e institucional do nosso País.

Na opinião de Delfim Netto, o momento não é de elucubrações. Basta definir umas poucas medidas, convencer e ter o apoio da sociedade para efetivá-las, apontando como providências eficazes a cobrança do ICMS no destino, o fim do efeito cascata do PIS/Cofins, a aposentadoria única para todos aos 65 anos de idade, políticas de substituição de importações e aumento dos investimentos em educação. Alerta para a importância da transparência no que se fizer, dando como exemplo a confiança em torno do Plano Real, criada pelo modo claro e completo como foi apresentado à Nação.

O que ele diz é que, se não houver um choque, o ano que vem será pior.

Um ponto das lições desse encontro foi a visão do crescimento como um instrumento para produzir uma sociedade civilizada, em que cada indivíduo pode se beneficiar dos seus esforços e capacidades, a partir de uma postura de otimismo.

O professor Delfim lembra na palestra que somos a sexta economia do mundo, que já superamos muitas crises e que não podemos jogar fora nossas conquistas institucionais. E com sua ironia fina, conclui: “Não temos competência para parar o Brasil. Fiquem tranquilos!”

 

 * É empresário, consultor de empresas e economista. É conselheiro de economia e especialista em mercado exterior.