A história da Humanidade se resume a uma simples constatação: a maioria mobilizada domina as minorias desorganizadas. Assim foi, assim é, assim será. No Brasil foi sempre a mínima minoria contra a máxima maioria. Um bocadinho contra o resto. Na colônia, no império, em todas as repúblicas, e até na ditadura. O Brasil é o país das minorias, o desfile nababesco das oligarquias para os olhos tristes de uma gente que pelas frestas da prisão social só espia.
A maioria foi sempre a massa, o resto, o nada, os que dão votos contra eles mesmos. Voto de cabresto, voto marmita, voto alugado, financiado e comprado. Todos, subsidiados pelo corrupto predileto contra o indefeso cidadão esperto, analfabeto.
Agora, para contradizer a regra, surge, da mobilização das massas, afogada em anos de repetidos escândalos e descasos, o Projeto de Lei Ficha Limpa. É um sopro de luz frente a nebulosa corrupção histórica no Brasil, é um grito de alento, de socorro. Com mais de 1,6 milhões de assinaturas, o Projeto segue, depois de alguns sujos enxertos – nada é perfeito – para sansão do presidente Lula. É, sobretudo, uma vitória da democracia, dos anseios da ampla maioria, uma expressiva manifestação de cidadania.
Com os muitos brasis em suas continentais distâncias, é chegada a hora do brasileiro se mobilizar pela onipresente internet. É hora da consciência cívica entrar na casa de todo cidadão, estar no seio da família brasileira, nos ensinar a amar e lutar por este país. É chegada a hora de usar a liberdade de expressão e de opinião, começar a ser um cidadão plenamente constituído.
A campanha que hora aplaudimos, prospera e vitoriosa, teve como grande palco a internet, entrando de casa em casa, escola em escola, consciência por consciência. Silenciosa, ela percorreu todos os cantos do Brasil dando voz a quem estava isolado no mais distante rincão. Do seu silêncio, ouvimos o protesto emudecido do brasileiro, dizendo um basta a deputados mensaleiros, anões de orçamentos e mentalidade, rufiões de sonhos e proxenetas do voto. De e-mail em e-mail, de assinatura em assinatura, fomos inteiros, brasileiros em consciência plena, realizando uma sufocante pressão popular.
Cada deputado, no frio mofo dos gabinetes recebia, a cada dia, mais de 15 mil emails pedido pela aprovação do Ficha Limpa. A sociedade pediu, exigiu, e conseguiu.
A campanha do Ficha Limpa deveria ser a eterna campanha pela moralização em nossa política, firmando um marco na vida pública brasileira do antes e depois dela. É preciso fazer mais. Exigir mais, reboar pelos quatro cantos do país nosso surdo grito indignado!
Ainda a tempo de fazer este país um lugar um pouco melhor para se viver. A sensação que temos quando vemos um sonho se tornar realidade é apenas essa: que a vigília esteja sempre desperta, pois ela é o preço de nossa liberdade.
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor