Buscava um aspirador de pó portátil, com função à bateria. Andando por uma área comercial, nenhuma loja de eletrônicos tinha desse tipo. Só via os convencionais. Finalmente o vendedor de uma delas me sugeriu que eu pegasse tal rua, onde havia uma galeria, porque na última loja eu o encontraria. Era uma loja de importados.
Cheguei lá e o atendente replicou que há poucos dias tinha vendido o último desses aspiradores, mas que em tal lugar eu poderia achá-lo. Enquanto eu perguntava também de outro utensílio, não hesitou em agregar que sua loja estava dominada por produtos chineses e que acreditava que até a camiseta que vestia fosse da China. Senti um desabafo.
Normal num contexto em que o Brasil diversifica seus parceiros comerciais a fim de defender o multilateralismo em suas relações diplomáticas e fortalecer a indústria nacional. A estratégia tem surtido efeito a ponto de o Brasil ser considerado o principal país da América Latina em importância econômica. Não só em extensão geográfica.
Nesta esteira, idealizou-se um grupo de países cuja capacidade econômica equivaleria à dos Estados Unidos ou a superaria em poucas décadas. Trata-se de Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), que participam de encontros e foros com o objetivo de aproximar as suas economias e contrabalançar as dos mais poderosos do mundo. Boa jogada.
O que provoca as dúvidas mais prementes, porém, é o intercâmbio econômico entre Brasil e China. Em abril, este país ultrapassou os Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil, enquanto o Mercado Comum do Sul (Mercosul) define que as transações entre os países-membros sejam prioritárias, o que envolve Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Como resolver este impasse? Não creio que o aumento do comércio entre Brasil e China prejudique o Mercosul, mas é um tema que deve ser discutido mais a fundo para evitar desentendimentos no bloco. Entre outros mal entendidos. A China tem exportado bens eletrônicos ao Brasil, enquanto lhes enviamos minério de ferro e soja.
O problema da diferença de valor agregado é ineludível, mas a indústria nacional não tem reclamado disso. Precisam de peças baratas para reduzir custos. Ao que parece, a relação tem sido proveitosa para os dois lados, enquanto aumenta a cooperação: programas de envio de satélites, agricultura, pesquisa médica, exploração petroleira, energia renovável.
Ainda que se trate de questões mais polêmicas, as propostas de Brasil e China são tomadas em consideração. Os dois países afirmaram outrossim a possibilidade de substituir o dólar por outra moeda em algumas transações ou como padrão de reserva internacional. Cogitou-se o Yuan da China para reduzir a dependência das oscilações do dólar.
A política brasileira de diversificação dos parceiros comerciais implica a discussão de propostas políticas, o que indispõe o grupo dos Estados Unidos e Europa ocidental. Sobre os benefícios ou malefícios da inundação de produtos chineses no mercado brasileiro, já é outra história. O vendedor da loja de importados ainda não conferiu a etiqueta de sua camiseta.
Bruno Peron Loureiro é bacharel em relações internacionais.