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Lula é força e fraqueza de Dilma

A alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o ativo político mais valioso que possui a provável candidata do PT ao Palácio do Planalto, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). Mas a figura de Lula também poderá se converter num ponto fraco da candidata Dilma.
Se mantido até a sucessão de 2010, o prestígio do presidente será importante para dar força eleitoral a Dilma. Lula tem andado pelo país com sua candidata a tiracolo. Cria oportunidades de deixá-la faturar na mídia eventos governamentais, a chamada "agenda positiva". Chega a dar dicas de discursos e a escolher fotos dela que devam ser divulgadas.
Lula está empenhado pela ministra. Para ele, ela é a melhor candidata para ganhar ou para perder. Se ganhar, será um feito inovador no qual terá grande crédito. A primeira mulher eleita presidente no Brasil. Se perder, ele terá tido uma defensora incansável de sua administração e ainda ficará com o mérito de ter apostado numa figura feminina.
O presidente age assim porque confia em Dilma. Ele acha que deve a ela boa parte das boas notícias do segundo mandato. Tem o governo mais na mão, digamos assim. Ela é mais obediente ao seu projeto político do que foram ministros importantes como Antonio Palocci Filho e José Dirceu, que adoravam uma carreira solo.
O discurso de campanha está mais ou menos pronto. Gostaram de Lula? Querem manter o Bolsa Família? Desejam mais do mesmo com alguns avanços? Votem em Dilma. Ou seja, um legítimo discurso de mistura de continuidade com melhoria de conquistas.
No entanto, Dilma enfrentará dificuldade se passar a ser vista como uma teleguiada, como uma subalterna que ocupará a Presidência enquanto o chefe político dará as cartas de São Bernardo do Campo. A sombra de Lula poderá fazer bem e mal ao mesmo tempo.
Dilma terá de ser Dilma em algum momento. E assim ser entendida pelo eleitorado. Se for apenas a candidata de Lula, tende a perder competitividade numa disputa que, aos olhos de hoje, parece que será dura.
Lula pode ajudar muito a ministra, mas o principal dependerá ela.
A crise econômica vem em ondas, que não são marolas. Mesmo assim, Lula bate recorde de popularidade, como apontou recentemente pesquisa Sensus/CNT (84% de aprovação pessoal).
O presidente tem se comportado como um líder que se esforça para  combater um problema que não criou. Fala diretamente com as camadas menos instruídas e de menor renda da população, aquelas que sofrerão mais com a crise. Fora a besteira retórica da marola, não tem cometido barbeiragens.
Até agora, a oposição não ofereceu alternativa melhor. O governador de São Paulo, José Serra, é cuidadoso. Teme ver críticas entendidas como torcida para o quanto pior melhor. Para alguns tucanos, é um erro. Para outros, um acerto. O tempo dirá.

Kennedy Alencar é colunista, repórter e comentarista