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Mãe x Filha: Como domar o lobo raivoso

Os conflitos entre mães e filhas são muito comuns na atualidade, só que hoje há um agravante. Antigamente os papeis de filhos e pais eram bem estabelecidos, os filhos tinham que obedecer cegamente, caso contrário sofriam castigos dolorosos. Assim, cresciam muito reprimidos e não se atreviam a entrar em conflito com os pais. Hoje, com a Lei do Diálogo, muitas mães confundem seu papel, chegando até a dizer que a relação com suas filhas é de duas amigas.
É claro que as mães têm que ser amigas de suas filhas, mas acima de tudo são mães. Quando esses limites não são bem estabelecidos, as mães correm o risco de competir com suas filhas de igual para igual.  E é aí que a coisa enrosca.
Quando a menina nasce, seu primeiro amor é a mãe. A mãe que satisfaz todas as suas necessidades. No primeiro momento é fácil entender que ela não queira dividir a mãe com ninguém, despertando ciúmes e medo de ser abandonada se a mãe se afastar um pouco para fazer outras atividades ou para dar atenção a outras pessoas. É exatamente nesta idade que começam os conflitos entre filhas e mães, que provêm de sentimentos de amor e ódio, medo de abandono e dificuldade de dividir.
Na idade escolar a atenção da menina se diversifica, começa a aprender a ler e escrever, faz novos amigos e está mais interessada em  conhecer o mundo. O problema recomeça quando chega a puberdade. Os hormônios do crescimento entram em luta com os hormônios sexuais, o que resulta no completo desenvolvimento das características sexuais, traduzindo na passagem da infância para a adolescência. Os seios começar a crescer, o cheiro da menina muda e ocorre a menstruação que é o marco da puberdade.
A menina já está se sentido mulher, muitas até passam a pensar que suas mães não são suas amigas ou que as mães das suas amigas são melhores. O conflito neste nível só serve para alimentar o lobo raivoso e invejoso de ambas. As mães costumam dizer que as filhas não têm limites, mas, muitas vezes, a mãe é que tem dificuldade de estabelecer limites para a menina desde a tenra idade, por esquecerem que uma função materna essencial é saber frustrar adequadamente. Frustrações por demais escassas, além de não desenvolver a importantíssima noção de limites, reforça a onipotência original, o lobo raivoso que acha que merece tudo e pode gritar com todo mundo.
Os conflitos entre mães e filhas sempre existirão. No entanto, na medida em que as mães reconhecem a imaturidade das filhas e entendem que elas não estão brigando e competindo pura e simplesmente. Mas, a briga maior é com seus próprios conflitos internos pela perda do corpo infantil, pela perda da mãe da infância e por ter que assumir novos papéis sociais que não dominam muito bem, fica mais fácil sobreviver alimentando o lobo bondoso e amoroso que também está presente na conturbada fase da adolescência.

Paulo César Ribeiro Martins é doutor em Psicologia pela PUCCAMP e rofessor da AEMS/UEMS/FIPAR