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Mais uma vez, pontuamos mal em matemática

O Brasil obteve a 53.ª colocação em Matemática entre os 65 países pesquisados na avaliação aplicada em 2009 pelo Pisa, programa subordinado à ONU e cujos resultados foram divulgados nesta semana. Não se pode debitar ao acaso o fato de os países que apresentaram elevado grau de desenvolvimento nas últimas décadas estarem no rol dos mais bem classificados no ranking: 1.º China (Shangai); 2.º Hong Kong; 3.º Finlândia; 4.º Singapura; 5.º Coréia do Sul; 6.º Japão; 7.º Canadá; 8.º Nova Zelândia; 9.º Taiwan; 10.º Austrália.
A Coréia do Sul nos anos 70 resignava-se com indicadores econômicos e educacionais até um pouco piores que os nossos. Trabalho persistente, cultura de valorização e elevados investimentos na educação fizeram daquele tigre asiático uma das mais bem-sucedidas nações emergentes. Hoje cerca de 40% dos jovens sul-coreanos, entre 18 e 24 anos, estão nas universidades. Aqui, apenas 12%. Se no Brasil a ênfase são as ciências humanas, lá são as pesquisas e o ensino em ciências exatas.
Lamenta-se o posicionamento do Brasil de um lado, mas comemora-se de outro pois está entre os três países que mais evoluíram desde 2000, quando participamos pela primeira vez, saltando de 334 pontos para 368 em 2009, quando a China fez 600 pontos. Ir bem ou mal em testes internacionais de Matemática tem elevado significado pois, nas oportunas palavras do pensador francês Jacques Chapellon, “existe paralelismo fiel entre o progresso e a atividade matemática; os países socialmente atrasados são aqueles em que a atividade matemática é nula ou quase nula.”
Suponho que alguns leitores se contraponham às premissas acima. Mesmo assim, é inegável que foram os antigos gregos que fizeram soar o gongo da nossa civilização porque dedicavam-se à Matemática como um desafio intelectual ou pelo simples prazer de pensar. Para eles, a Matemática exerce o nobilíssimo papel de serva e, ao mesmo tempo, rainha.
Como é uma atividade solitária, o aluno brasileiro não é atraído pois culturalmente é pouco valorizada, quando não motivo de pilhérias ou bullying. “Não menospreze os nerds da sua escola. Você ainda irá trabalhar para um deles” – aconselha Bill Gates, que juntamente com Steve Jobs (da Apple) foram proeminentes nas disciplinas de ciências exatas.
Temos uma geração que tem preguiça de pensar. Entretanto, nunca se valorizou tanto a pessoa ou o profissional com boa capacidade de raciocínio, enfim, o resolvedor de problemas. Hoje o jovem aprende rápido e esquece rápido, não mergulha fundo e, assim, o aprendizado é fugaz ou fruto de um clique. Este é um enorme desafio para pais e educadores. É uma luta permanente competir com as seduções do mundo digital: site de relacionamentos, games, internet, tevê, celulares, etc. Ademais, o excesso de contextualização e superficialidade que permeia as questões de Matemática na apostilas, livros, provas, vestibulares, especialmente no ENEM, compromete o desenvolvimento do raciocínio. A Matemática tem, sim, o escopo utilitário e prático, porém o seu maior legado é o incremento da têmpera racional da mente. Mesmo profissionais que aparentemente passam ao largo dos algarismos, como os advogados – embora sejam ótimos no cálculo dos honorários – é preciso lembrar que uma boa demanda jurídica tem por fulcro um excelente encadeamento lógico.
Em síntese, só se desenvolve o pensamento lógico com o cérebro e com as nádegas. Sim – blague à parte –, é preciso organização pessoal, disciplina, uma mesa, uma cadeira, um ambiente de silêncio e a disposição para o aprofundamento. Um texto ou exercício mais complexo é um desafio e faz bem aos neurônios. Há muito mais sinapses em 10 minutos dedicados a um problema difícil, mesmo não resolvido, do que na solução de três outros exercícios bastante acessíveis.
Raciocinar exige esforço. “Pensar dói” – declamava Brecht. Quando o rei Ptolomeu folheava os pergaminhos de Os Elementos, recheados de axiomas, teoremas e postulados, perguntou esperançosamente a Euclides:
– Não existe uma forma mais fácil de aprender essas demonstrações?
– Não, majestade, não há estrada real para a Geometria – teria respondido o autor.

Jacir J. Venturi é formado em Engenharia e Matemática