Você sabia que existem milhares de pessoas que tem carteira de motorista, um carro na garagem e não estão dirigindo por não se sentirem seguras? E que, alem destas, outras milhares de pessoas estão sofrendo nas auto-escolas tentando aprender a dirigir apesar da enorme ansiedade, ou tentando passar no exame de direção depois de varias tentativas frustradas e de muito nervosismo? E outras tantas que sequer cogitam a possibilidade de entrar na auto-escola por não acreditarem que possam aprender a dirigir com tranqüilidade e segurança? Pois este quadro é bem real e posso confirmá-lo através de pesquisas que fiz, alem de inúmeros clientes que recebi em meu consultório com esses tipos de problemas.
O público mais atingido é de pessoas (na maior parte mulheres) com mais de 30 anos de idade e uma hipótese que levantei é de que indivíduos nesta faixa etária geralmente só começam a dirigir na auto-escola e não tiveram contato com o carro quando eram mais jovens, época em que não se tem muitas responsabilidades. Geralmente são pessoas responsáveis, corretas, inteligentes e que são bem sucedidas naquilo que fazem, se cobram demais e não se permitem errar, e geralmente vão aprender a dirigir não porque querem mas porque precisam, seja pra levar os filhos na escola, a mãe no médico, por pressão dos outros, etc.
Então elas entram na auto-escola para aprender a dirigir, e aí começa a dor de cabeça. Tenho percebido que o que acontece é que não há uma preocupação por parte da maioria destes estabelecimentos de ensino em averiguar que tipo de aluno estão recebendo, o que seria útil para poderem planejar uma metodologia de ensino adequada para cada um. Geralmente o que acontece é que o ensino é muito rápido, estressante, frustrante e é passado como verdade pra elas que todo mundo se torna motorista com apenas algumas poucas aulas de direção.
Muitos alunos vão para o exame de direção, totalmente despreparados técnica e emocionalmente tendo que enfrentar uma cobrança enorme por parte da banca examinadora que permite uma margem muito pequena de erros. Em mais da metade dos casos isso acaba com uma reprovação e mais frustração.
Finalmente, por causa da imensa garra e perseverança que essas pessoas tem, elas conseguem passar no exame e tiram a tão sonhada carteira de motorista. Pena que a alegria dura pouco. Para a maioria agora é que o problema realmente começa. Elas percebem que apesar de ter a carteira, ainda não se sentem seguras pata enfrentar o trânsito sozinhas. Por causa da cobrança e pressão dos outros ou de si próprias elas começam então a enfrentá-lo assim mesmo e acabam por bater o carro ou passar por situações de muito estresse e/ou constrangimento. Com o tempo vão arrumando desculpas para não dirigir e se afastam completamente do carro. Isso gera muita frustração.
Ações se fazem necessárias para minimizar esse quadro. Em minha opinião ajudaria muito se as auto-escolas se preocupassem em conhecer melhor quem é o aluno que chega, através de um levantamento de informações pertinentes para promover a elaboração de um plano de ensino para este aluno em particular aprender a dirigir. Penso que além de preparar o aluno para passar no exame de direção, ele deveria ser preparado para se sentir seguro e com autonomia para continuar praticando depois de tirar a carteira de motorista.
Procurei traçar neste artigo um quadro geral do que tenho percebido, não sendo minha intenção indicar culpados e sim chamar a atenção para esta realidade, oferecendo sugestões de mudança e propostas de atuação e desde já, coloco-me à disposição de qualquer pessoa, empresa ou entidade interessada em conhecer melhor o meu trabalho.
Se você, que está lendo este texto, conhece alguém que está com problemas para dirigir mostre-o para a pessoa, para que a mesma possa se contextualizar e perceber que o problema não é só dela, e também para seus amigos e familiares para que entendam a questão e possam ajudar também.
Fernando Sales, formado em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia