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Mensagem à esquerda democrática

Vejo uma minoria barulhenta isolando-se com os dramas de Dilma

Dante Filho *
 
 
Sei que a esquerda (de quase todos os matizes) está em baixa. Os mais variados tons da direita estão em alta. Vivemos tempos complicados. Principalmente entre aqueles que se esfalfam em debates tardios sobre definições políticas e ideológicas. Mesmo assim, devo reconhecer que o PT e seus satélites criaram essa maçaroca de pensamento que hoje resulta em repúdio da sociedade em relação à postura, digamos, socializante. O “esquerdismo” está se reduzindo a uma pose de mau gosto.
 
Vejo uma minoria barulhenta isolando-se com os dramas de Dilma, sem saber o que responder aos críticos (cada vez em maior número) quando eles apontam a incompetência, a corrupção, enfim, a bagunça geral que estamos vivendo. A defesa do governo – qualquer uma – percorre um caminho que vai da patifaria à comédia de erros.
 
Diante disso, em vez de olhar para si, fazer uma autocrítica, revisar conceitos, e pedir perdão, o petismo segue na contracorrente: elocubra em torno de fantasias como a iminência de um golpe, a conspiração da direita, as manobras das “elites” e o “jogo sórdido” do carcereiro de Curitiba. Não está funcionando. Está piorando.
 
No final dos anos 80, um amigo militante do PT (sim, tenho ainda alguns) me disse uma frase: “Dante, é duro ser de esquerda, a gente precisa sempre ser coerente e honesto, não podemos nunca amolecer”. Concordei.
 
Mas o tempo passa, e ficou claro que a carne é fraca e esse modelo de comportamento foi corroído pela prática do poder. Outro dia, vi esse mesmo companheiro correndo da justiça, fugindo de uma notificação por denúncia de corrupção e improbidade administrativa.
 
Mas reconheço que nestes agrupamentos à esquerda existem pessoas com clara percepção do processo histórico. São lúcidas, com acurada capacidade de análise e que não perderam o senso crítico diante das palavras de ordem obscurantistas daquela outra esquerda que se comporta como fascista.
 
Só que PT ainda intimida quando o tema é impeachment, a prisão de Lula e a operação Lava Jato. A acusação de golpismo e de neoliberalismo causa incômodo a esse pessoal. A “esquerda democrática” quer manter uma imagem de coerência ideológica com quem não merece consideração.
 
 Daí o refluxo militante por parte daqueles que orbitam o pensamento socialdemocrata (que um dia teve Marx como protagonista, nna Alemanha do final do século XIX), principalmente quando se trata de participar de eventos de rua como aconteceu este ano – e que vai novamente acontecer no próximo dia 16.
 
Compreendo que não é fácil participar de uma manifestação e ver malucos levantando a bandeira pela volta dos militares. Compartilho as dificuldades morais em aceitar bandeiras com frases imbecis ilustradas com imagens de uma mão sem um dos dedos. Não é fácil compartilhar o espaço público com gente primitiva e atrasada. Mas é o que se tem, infelizmente, neste momento.
 
Assim, vejo que está passando da hora da “esquerda democrática” se manifestar, dizer seu nome, falar de si. Dizer claramente que o capitalismo venceu, que o socialismo vulgar perdeu, deixando claro, contudo, que nada justifica a concentração de renda e a pobreza humilhante.
 
Que a meritocracia é importante, sim, mas que num País desigual como o nosso é preciso reforço de políticas compensatórias para permitir pontos de saídas entre pessoas de diferentes origens.
 
Que a presença do Estado na economia é importante para garantir infraestrutura (de estradas a programas de inclusão), devendo haver, paralelamente, conexão com a iniciativa privada para fortalecer o ambiente de negócios. Enfim, é possível ser de esquerda sem ser autoritário nem professor de deus.
 
Dá para discutir socialismo sem ser estatizante. Dá para olhar o capitalismo sem os ranços dos ricos contra os pobres. Dá para pensar a política sem o antagonismo burro do “eles” contra “nós”.
 
Neste cenário, não há outra saída que não seja a de tirar o PT do poder. É preciso haver um tremendo curto-circuito democrático para sacudir o Brasil. Não havendo isso (mesmo que seja com Temer e o PMDB) é fácil prever que no fim do túnel não haverá luz, apenas o negrume do abismo que nos espera.
 
Sinto que o lulopetismo perdeu-se num torvelinho de fantasia e delírio. O último programa televisivo do partido mostrou como a boa estética disfarça a esquizofrenia crônica. Em vez de abrandar o ódio social, abriu espaço para agudizá-lo. Só a loucura produz essas coisas.
 
Por isso acredito que a esquerda democrática deve aglutinar correntes de pensamento para se colocar de maneira clara diante do processo caótico que se avizinha, aproximando-se inclusive da direita moderada e dos liberais esclarecidos, para garantir uma transição menos traumática do hospício que vivemos, hoje, para a normalidade que podemos viver,  amanhã. Câmbio, desligo.
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