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Minas não é capitania hereditária

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, é um quadro político respeitável. Faz uma boa administração, atestam as pesquisas e a percepção de quem foi ao Estado com certa frequência nos últimos seis anos. Aécio possui credenciais para sonhar com um projeto presidencial em 2010. Mas ele tem cometido erros políticos e lidado mal com alguns percalços na disputa pelo poder.
Um primeiro erro foi avaliar que teria grande chance de derrotar o governador José Serra na disputa interna do PSDB pela candidatura ao Palácio do Planalto. O mineiro achou que seria menos difícil essa empreitada.
Aécio tinha melhor relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia estar para ele como Getúlio esteve para JK. Trocando em miúdos: dar gás a um oposicionista cordato e a quem respeitava. Aécio também tirava vantagem da imagem de político conciliador e sedutor ante a imagem de um Serra desagregador e trator.
Do final de 2007 para cá, Serra atacou esses pontos fortes de Aécio. Aproximou-se de Lula. Contra boa parte do PSDB, jogou seu peso na derrotada articulação pela prorrogação da CPMF, o antigo imposto do cheque. Fez parcerias administrativas. Azeitou canais políticos, sinalizando uma transição civilizada e nada vingativa no caso de suceder o petista.
Serra engoliu o que parecia uma articulação de gênio de Aécio: a aliança com o PT na eleição municipal de Belo Horizonte para eleger Márcio Lacerda, do PSB de Ciro. Ou seja, três em um (PSDB-PT-PSB). O objetivo, correto, era sinalizar com atos e não com palavras que o governador mineiro seria aquele que poderia unir no futuro PT e PSDB, esses primos da redemocratização brasileira que vivem brigando. Aécio seria o pós-Lula, não o anti-Lula. Mas o namoro não foi engolido por muitos petistas e tucanos.
Serra reagiu. O governador paulista deu o tombo no candidato de seu partido em São Paulo, Geraldo Alckmin, o que só fazia levar água para o moinho da candidatura presidencial de Aécio. Enquanto o governador mineiro pôs fichas em Alckmin, o paulista vitaminou o candidato a prefeito do DEM, Gilberto Kassab, com uma surpreendente aliança com o PMDB quercista.
Hoje, está claro que será tarefa hercúlea Aécio derrotar Serra no PSDB. E parece cada dia mais complicada a possibilidade de o mineiro se filiar ao PMDB ou de criar um partido novo para tentar com o presidenciável Ciro Gomes (PSB) uma terceira via na campanha presidencial de 2010. Na política, é possível surpreender sempre. Essa é uma de suas graças. Mas não será fácil.
Na eventualidade de Serra virar o candidato tucano, os eleitores de todo o país deverão fazer uma análise racional de suas propostas. Dificilmente o motivo do voto será uma vingança coletiva de Minas na hipótese de eventual derrota de Aécio na disputa tucana. Os eleitores também poderão analisar as propostas da mineira Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e provável candidata do PT de Lula à Presidência.
O argumento da vingança mineira poderá se voltar contra Aécio. O atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, passou maus bocados quando o eleitorado achou que ele era um candidato teleguiado de Aécio e do ex-prefeito e petista Fernando Pimentel. Esse negócio de curral é meio antigo para um político tão jovem como o governador de Minas.

Kennedy Alencar é colunista e comentarista de jornal