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Mulheres e poder

Estamos comemorando mais um Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, e neste período é muito comum fazermos uma retrospectiva da luta feminina ao longo da história. É claro que é muito importante resgatar o passado e homenagear personalidades como Berta Lutz, por exemplo. Sem ela, não estaríamos comemorando os 78 anos do voto feminino no Brasil.
Neste mês de março sempre se faz um balanço, com estatísticas e números a respeito das mulheres no mercado de trabalho, das diferenças salariais, da dupla jornada (em casa e no serviço), do grau de escolaridade, da participação feminina em postos-chave nas empresas e na política.
Temos muito orgulho das conquistas obtidas pela luta de diversas mulheres mundo afora em prol de mais participação política e igualdade de direitos ao longo dos anos. Sem nos esquecermos do passado, chegamos ao século XXI com mais um desafio: a construção de um modo feminino de fazer política.
Diante disso, não há como negar que, cada vez mais, estamos diante de uma nova mulher. Pesquisas indicam que nós mulheres somos mais versáteis, temos ampla capacidade de planejamento, somos práticas e sentimentais ao mesmo tempo. Estas são características determinadas pela neurobiologia. Diferentemente dos homens, as mulheres têm interesses diversificados entre carreira, família e projetos pessoais. Temos prioridades mais flexíveis, estamos preocupadas com o bem-estar dos outros. E é neste ponto que quero chegar quando falamos da relação Mulheres e Poder.
A minha experiência como política e parlamentar muitas vezes me leva a questionar se estamos fadadas a repetir os mesmo padrões políticos tradicionais, legados pelo patriarcalismo e pelo pragmatismo masculino.
Vejo que a atividade política se reproduz por meio de um modelo histórico e sinto que as mulheres ainda estão tateando na penumbra sobre qual seria o modus operandi feminino de ação política. É preciso criar uma categoria diferenciadora que fuja aos padrões convencionalmente consolidados.  Estou falando da superação do modelo tradicional de organização e significação da vida para promover uma maior participação das mulheres na cena pública.
Temos que fortalecer uma espécie de modelo feminino de fazer política. Digo isso porque as mulheres têm uma visão mais holística do mundo e devem aproveitar este potencial e a sua sensibilidade para ajudar a construir ações voltadas para a melhoria real da vida da população.
Infelizmente ainda observamos as brutais desigualdades no campo da participação política. Temos o sistema de cotas, que obriga os partidos a inscreverem, no mínimo, 30% de mulheres nas chapas proporcionais. Mas parece que o instrumento não tem sido eficaz para atrair lideranças femininas com real potencial eleitoral para as agremiações partidárias.
Basta observar a composição atual do Congresso Nacional. Temos 45 Deputadas Federais, correspondendo a 8,77% das cadeiras. E 10 senadoras, o que equivale a 12,34% do total. Ainda é muito pouco. Segundo a ONU, neste ritmo, só teremos uma equivalência entre homens e mulheres no Legislativo Federal daqui a 400 anos.
É preciso criar uma nova consciência do papel da mulher na sociedade e torná-la protagonista das grandes decisões em todos os níveis e áreas de atuação e conhecimento. Não queremos competir com os homens. Precisamos encontrar a receita da parceria e da cooperação entre os sexos, que certamente será benéfica ao País.
Em 2010 teremos pela primeira vez a possível presença de duas mulheres candidatas à presidência da República. É muito bom que isso aconteça; nada melhor para a democracia que o eleitorado tenha múltiplas opções.
Acredito que a escolha do próximo chefe da Nação deva se pautar em questões de gênero, raça ou nível social, mas sim em quem apresentar as melhores propostas para o futuro e tiver verdadeiro comprometimento com a solução dos grandes problemas nacionais.
Além disso, é importante levar em conta a história de vida, conhecimento do País, experiência administrativa, comprometimento político-partidário e credibilidade de cada candidato. É preciso votar em alguém que seja um verdadeiro líder e que, independentemente do sexo, tenha experiência para realizar ações efetivas em prol do povo brasileiro.
Reconheço, contudo, que as mulheres estão pouco a pouco construindo novos caminhos, demarcando espaços que serão fundamentais para a formulação de uma agenda de futuro. Por isso, queremos no poder alguém que possa desenvolver projetos que sejam adequados para a Nação neste momento histórico. Alguém que tenha experiência suficiente para manter a governabilidade, sem precisar de mensalões e de outras artimanhas baseadas na corrupção.
Lembro-me de Dona Ruth Cardoso, mulher engajada, autêntica, inteligente e respeitada por todos os partidos. Ela tinha luz própria e era uma crítica feroz das injustiças sociais. Tanto que criou um novo modelo para as políticas de inclusão brasileira, organizando as bases da rede social que hoje influi na nova maneira de pensar o Brasil.
Dona Ruth, neste aspecto, é o melhor exemplo de como a política pode se vestir de características próprias, ornada de sensibilidade, de senso de justiça e de preocupação ética no trato da coisa pública. O poder assim exercido pode assegurar extraordinários avanços para a sociedade.
 
Marisa Serrano é senadora pelo Mato Grosso do Sul e Vice-presidente Nacional do PSDB