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Não somos tão maus assim

Chegamos ao final do ano e mais uma vez colecionamos escândalos políticos de todo os tamanhos. É difícil apontar qual o que mais enoja e nos faz sentir mais humilhados, discaradamente roubados, desrespeitados como cidadãos pagadores de taxas e, consequentemente, patrocinadores involuntários de todas as falcatruas que assolam o País.
Lamentável assistir o vídeo sobre o jogo do bicho praticado livremente dentro da Assembléia Legislativa do nosso Estado. Estarrecedor ver cenas típicas do tempo de ditadura acontecendo em Brasília com cavalos pisoteando cidadãos manifestando contra a corrupção no alto escalão do Governo.
Dizem que um importante político francês disse um dia que o Brasil não é um País sério. Embora seja reconhecido internacionalmente como uma potencia emergente, percebe-se que no exterior somos lembrados realmente pelas praias, samba, Pelé e lindas mulheres semi nuas.
Vivendo há algum tempo no exterior me espanta ver imigrantes brasileiros que reforçam essa imagem e criticam duramente nosso País. Elogiam abertamente a seriedade política européia em oposição à malandragem brasileira e a “terrinha” é retratada como um ninho de políticos corruptos. 
Longe de mim defender os inescrupolosos brasileiros de plantão, mas vamos a alguns recentes escândalos nas terras da Rainha. Uma importante ministra teve suas despesas investigadas e foi descoberta uma nota no valor aproximado de R$ 20 referente a locação de DVDs pornográficos! Nada contra o prazer da “lady”, mas vamos poupar o contribuinte desse vexame minha senhora.
Outro membro do Parlamento empregava o filho em um cargo de confiança em seu gabinete, em período integral. Difícil explicar quando descobriu-se que o garoto estudava também em período integral numa famosa Universidade, distante alguns quilômetros de Londres.
Mais uma? Uma política apresentava recibos da babá de seus filhos para ser pago pelos contribuintes. Não satisfeita com isso, usou de sua influência política para regularizar a situação da trabalhadora ilegal no país. O mais escandaloso é  que, com isso, ela infringiu leis que ela mesmo ajudou a elaborar!
Alguma semelhança com nossos políticos tupiniquins? Eu poderia relacionar inúmeros escândalos que aconteceram somente neste ano na fria Inglaterra mas, vamos parar por aqui. A intenção não é  inocentar os corruptos brasileiros, mas sim lembrar que corrupção, o uso indevido do dinheiro publico e abuso do poder não são exclusividades do Brasil. A ganância e o egoísmo, infelizmente são inerentes ao ser humano. E eles vêm à tona quando tem a oportunidade propiciada pelo poder político ou econômico.
Por outro lado, é bom saber que não somos tão maus quanto pensamos. Precisamos elevar nossa auto estima, afinal os “lords” do parlamento inglês, embora mais elegantes que os nossos políticos, cometem os mesmos deslizes e desrespeitos para com seus cidadãos.
Não devemos parar de nos indignarmos com os desmandos públicos, mas devemos ser menos severos em relação ao nosso País. Somos uma nação jovem, se comparada aos países da Europa. Temos mais qualidades que nos individualizam, do que defeitos exclusivamente nossos.
Há algo de podre no reino da Inglaterra, não só no da Dinamarca. E também no Brasil. Como em todos os países.

Ana Maria Martins é professora e mora em Londres há cinco anos