Sou de uma geração que teve a honra da oportunidade de conviver com os momentos mais significativos e importantes da segunda metade do século XX. Momentos decisivos para a história da humanidade e, mui especialmente, para a nossa mãe pátria. Para não ser extenso, lembro-me dos episódios finais da Segunda Grande Guerra e os do início da Guerra Fria. Nem bem se esmagava a cabeça da víbora do nazi-fascismo, outra surgia – tão peçonhenta com seu veneno mortífero – a do leninismo-stalinista, de virulência mais longa que àquela. Exemplos desses episódios são: a queda do Estado Novo, após oito anos de total supressão das liberdades individuais e políticas em nosso Brasil; o movimento militar de 1964, conseqüência de um clamor popular contra a evidentíssima ameaça da bolchevização das nossas instituições e que, perdendo o seu horizonte, serviu de mote para a permanência no poder de um staff castrense por longo tempo; o movimento épico das Diretas-Já, do qual distingo-me por dele ter participado como um de seus subscritores da Emenda Dante de Oliveira; a Assembléia Nacional Constituinte de 1987/88 que restituiu a plena democracia ao país com a promulgação da Constituição de 88 (da qual honro-me por ser um de seus signatários), permitindo que as decisões maiores da nacionalidade corressem pelo e do leito caudaloso e irrefreável da vontade popular.
No curso destes transcendentais acontecimentos que agitaram o século XX, muitos foram aqueles que se destacaram com idéias, obras e ações. Isso tanto para o bem, quanto para o mal. Para o mal, a história registra para todo o sempre: Hitler, Mussolini, Togo e Stalin. Para o bem registra-se: Roosevelt, Churchill, Adenauer, De Gaulle, dentre tantos outros líderes mundiais, todos imortalizados pelo legado que deixaram.
Em nosso país, restaurada a democracia em 1945, sob as explosões da vibração popular decorrente da vitória dos Aliados sob as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), reaglutinaram-se as correntes democráticas, daí surgindo marcantes figuras de homens públicos que, com acendrado espírito de servir, notabilizaram a política até o final do século XX. Sem o ranço da militância política, poderia afirmar que nesse importante período da história pátria se destacaram (aprecie ou não deles): Getúlio Vargas, Eduardo Gomes, Eurico Gaspar Dutra, Otávio Mangabeira, Nereu Ramos, Juraci Magalhães, Osvaldo Aranha, João Neves da Fontoura, Virgílio de Melo Franco, Vieira de Melo, Aliomar Balheiro, Afonso Arinos, Juscelino Kubstichek, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Mario Covas, André Franco Montoro. Em nosso cenário regional destacaram-se: Fernando Corrêa da Costa, Vespasiano Martins, Arnaldo Estevão de Figueiredo, Filinto Muller, João Ponce de Arruda, Dolor de Andrade, Antônio Mendes Canale, Marcílio de Oliveira Lima, Philadelfo Garcia, Plínio Barbosa Martins, Harry Amorim Costa, Paulo Coelho Machado, Rachid Saldanha Derzi, Ramez Tebet, todos com registro para outra existência – a eterna.
Quando lembro e relembro desses fatos e destas personalidades, que a pátina do tempo não obscureceu da minha visão, procuro comparar com os acontecimentos e “personalidades” que perambulam por nossa vida pública. A conclusão que chego é de que aqueles (a que me referi no título deste artigo) eram realmente os bons tempos!
Não me considero vencido, pois nada obstante à obscura fase por que passa a nossa vida pública, marcada pelo selo da corrupção, do compadrio, da falência da ética e da moral e da estonteante carência de valores políticos, creio que os ideais que sempre me animaram estão agasalhados na têmpera de muitos que ainda porfiam pelas causas realmente republicanas e democráticas.
Ruben Figueiró de Oliveira foi Deputado Estadual, Federal, Constituinte de 1988, Secretário de Estado e Conselheiro do Tribunal de Contas. É Senador suplente.