O primeiro trimestre de 2009 foi um desastre. Tirando China e Índia, nenhuma economia representativa do globo saiu ilesa. Todas afundaram. Em termos anualizados, EUA e Europa encolheram cerca de 6%.
Os últimos seis meses foram o pior período econômico para o mundo desde o final da Segunda Guerra, em 1945. É a conta da farra financeira que explodiu de uma vez em setembro de 2008.
E agora?
Estamos no final do primeiro mês do segundo trimestre do ano, mas os sinais de retomada são frágeis. Ainda parecem mais de "desaceleração da piora". São brotos muito verdes e finos, dizem alguns, para assegurar uma recuperação rápida. Há ventos ainda gelados demais varrendo a terra arrasada.
As principais Bolsas de Valores mundiais antecipam há várias semanas a expectativa de volta do crescimento. Em Nova York, as ações se valorizaram 30% desde março. Os preços das commodities estão subindo (puxando a Bovespa) e há alguma esperança de que o pior já passou.
Nos últimos meses, os governos das maiores economias do mundo abriram a porteira para gastos estatais. Nos EUA, a expectativa é de que o endividamento como proporção do PIB salte dos atuais 44% para 77% em quatro anos. No Reino Unido, que dobre de 49% para 97%. Nos 16 países que têm o euro como moeda, com diferenças, há também tendência de aumento do endividamento público.
O risco embutido no endividamento de um país é sempre medido como proporção de seu PIB. Pois é o tamanho do PIB que determina o volume de impostos gerados para que o governo possa, com o tempo, pagar suas dívidas e conter a eventual insolvência. É igual ao orçamento de uma família.
A aposta que os países desenvolvidos fazem é arriscada: esperam injetar dinheiro suficiente na economia (via dívidas) para fazer com que seu PIB cresça mais à frente. Diminuindo, portanto, a relação endividamento/PIB.
O imenso risco que os países correm é que a economia não cresça rapidamente. E logo.
Neste caso, em vez de ajudar, o endividamento público irá se somar a todos os outros problemas nada menores já existentes (desemprego elevado, "ativos tóxicos" entupindo os bancos, despejos de famílias nos EUA, etc.).
Na semana passada, a cotação do dólar no mercado internacional refletiu esse temor e despencou para o menor nível neste ano. A dívida americana pode somar US$ 10 trilhões (ou seis PIBs do Brasil) em quatro anos. E nada garante que o país volte a crescer com força.
Na mesma semana, a agência de classificação de riscos Standard & Poor”s rebaixou de "neutro" para "negativa" a classificação "AAA" (a mais alta) da dívida pública do Reino Unido, refletindo também o temor de que o aumento do endividamento no país não seja suficiente para fazer seu PIB "pegar no tranco".
A "fase 1", terrível e fascinante da turbulência inicial da crise, já ficou para trás. A "fase 2", de sedimentação de um quadro grave de desemprego e contração da atividade, também já está plenamente entendida.
Como último recurso, após violentos cortes de juros pelos bancos centrais de vários países, entramos agora "na fase 3": a explosão das dívidas estatais. Consumidores, bancos e governos agora juntos no mesmo ciclo de endividamento.
É esperar que ele não escorregue para o pior dos piores.
Fernando Canzian é repórter especial