O goleiro Barbosa, que tomou o fatídico gol do atacante Ghiggia, não foi o único culpado pela opinião pública e a imprensa pela derrota do Brasil para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. O uniforme de nossa seleção também foi sumariamente julgado e condenado como um dos grandes responsáveis pela chamada “tragédia do Maracanã”. A sentença têxtil baseou-se no fato de a camisa branca, com golas azuis, “ser insuficientemente nacionalista”. À época, o jornal carioca Correio da Manhã decretou, em editorial, que o traje sofria de “falta de simbolismo moral e psicológico”.
O bom senso e a razão reparam a injustiça histórica, pois Barbosa não perdeu aquela copa sozinho e o uniforme branco, embora jamais utilizado novamente pela Seleção, não teve qualquer influência no resultado. Nos 60 anos desde aquele triste episódio do esporte nacional, o futebol evoluiu muito em termos de preparação física, conceitos táticos e materiais. Goleiros e atletas, como qualquer ser humano, continuam suscetíveis a eventuais falhas, mas os uniformes nunca mais poderão ser culpados. Mais do que isso, deixam de ser um item passivo do jogo como em 1950, tornando-se um dos fatores ativos para a performance física.
Sem dúvida, uma seleção que disputasse a Copa do Mundo de 2010 utilizando camisas e calções antigos levaria sensível desvantagem em relação aos times vestidos com peças dotadas das últimas tecnologias desenvolvidas pela indústria têxtil. Seus jogadores cansariam mais, ficariam mais desidratados e carregariam um peso extra em comparação aos oponentes. Os grandes avanços ocorridos nos tecidos possibilitam, por exemplo, que os uniformes atuais sejam muito mais leves, não concentrem suor e favoreçam a oxigenação da pele dos atletas.
Toda essa tecnologia faz com que os treinamentos intensos, alimentação correta e o bom preparo físico e técnico não sejam os únicos responsáveis pelo sucesso no esporte. O traje tecnicamente adequado também faz parte do conjunto de equipes e atletas vencedores. É como se fosse o 13º jogador num time de futebol (o 12º, claro, continua sendo a torcida!). Os chamados tecidos tecnológicos resultam de pesquisas realizadas pela indústria têxtil, como ocorre no Brasil, onde o setor é um dos mais avançados do mundo.
Os modernos materiais utilizados na produção de uniformes para equipes e esportistas de alta performance acabam beneficiando também os torcedores e os atletas amadores e de final de semana, pois os produtos esportivos colocados à disposição dos consumidores têm as mesmas características e peculiaridades. No Brasil, estima-se que somente a comercialização de camisetas das equipes tradicionais do futebol nacional cresça em média 30% e movimente mais de R$ 200 milhões por ano. Na Europa, há grandes clubes, como Barcelona, Real Madrid, Internacional de Milão, Arsenal, Chelsea e Manchester United, que movimentam, cada um, valores até maiores na venda de camisas.
Obviamente, os investimentos em pesquisa e inovação, muito fortes na indústria têxtil paulista, visam à produção de tecidos cada vez melhores para todo tipo de confecção. Assim, os 190 milhões de torcedores da Seleção Brasileira nesta Copa do Mundo de 2010, vestidos ou não de amarelo, têm roupas muito mais aptas do que em 1950 para proporcionar conforto e bem-estar ante as reações orgânicas inerentes às fortes emoções do futebol…
Rafael Cervone Netto é o presidente do Sinditêxtil-SP e presidente em exercício do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).