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O (des)governo brasileiro

O Brasil é exemplo em atos como as eleições, em que o sistema eletrônico contabiliza os votos em tempos recordes. Outro exemplo é o Sistema Único de Saúde, que possui, em tese, atendimento universal. Em vários países desenvolvidos, a saúde pública não funciona. Antes de atender uma emergência, verifica-se se o paciente tem algum plano de saúde ou como vai pagar pelo serviço. 

A superlotação em postos de saúde e hospitais públicos no Brasil é comparada a uma bomba relógio, que pode estourar a qualquer momento. O descaso é grande: além da falta de leitos, a administração de recursos quase sempre é falha. Se a máquina que faz o raio-x quebra, o que fazer com ela? A resposta deveria ser “Conserte!”, mas nem sempre isso acontece, pois “não há dinheiro”. Existe muito dinheiro nesse país; o que não há é bom senso na administração dele. É lastimável ver seu ente enfermo em corredor de hospital, correndo riscos, como o de infecção hospitalar ou outras doenças. 


Os serviços públicos de forma geral são deficientes, e os governantes não fazem uso deles, não dormem em filas para conseguirem ser atendidos, não esperam meses para conseguir uma consulta ou exame. Nos últimos tempos, têm acontecido, no entanto, alguns problemas também nos atendimentos privados, envolvendo planos de saúde. Os profissionais da saúde alegam que os planos privados pagam muito pouco: cerca de vinte e sete reais por consulta. Quanto ao Sistema Único de Saúde, paga dez reais para especialistas e quatro reais para consultas básicas. Não é, portanto, por acaso, que há tantas precariedades. Quem tem condições de arcar com valores que oscilam de R$ 200,00 a R$ 500,00 por consulta recebe atendimento; os demais, seja pelo SUS ou pelos planos de saúde, têm que esperar.


Disso deriva outro problema que tem afetado a saúde do povo brasileiro: a automedicação. É mais fácil dizer ao Google o que se sente, pois, em frações de segundo, vários sites se apresentam e mostram os medicamentos bons para cada doença e como tomar. Ou então se pode ir a uma farmácia e dizer ao balconista os sintomas e comprar os medicamentos “corretos”, posto que apenas os remédios com a famosa “tarja preta” possuem venda controlada de fato.


Mais uma vez, se o dinheiro público fosse muito bem administrado, a população teria dignidade, mas a capacidade da população em esquecer as fraudes cometidas em todos os governos é admirável. O caso mais recente é o de Renan Calheiros, que voltou para o Senado. Se ele está lá é porque alguém o colocou.

É incrível o contrassenso que caracteriza os saberes ou a memória do brasileiro: as pessoas em geral sabem muito sobre como está o futebol, como estão as novelas, o Big Brother, o carnaval, mas não lembram em quem votaram na última eleição. Se está no ar a Voz do Brasil, desligam seus rádios ou sintonizam uma música. Dizem não ter paciência, ou não gostar de política. Não possuem consciência de que boa parte do que nos rege é política: as leis, a administração dos entes federados, a disponibilização de recursos públicos, entre tantos.


Em muitos lugares do mundo falta boa administração de recursos públicos. Se não há esse cuidado, a corrupção ocorre e quem sofre, mais uma vez, é a população. Os políticos são os representantes do povo e, como tal, devem agir. É muito mais fácil reclamar de que nada está bom do que exigir que se cumpram as promessas eleitorais, ou investigar a idoneidade de candidatos, buscar melhorias para todos, ser consciente antes, durante e após as eleições. As futuras gerações dependem de como agimos HOJE, para terem aos menos a oportunidade de existir, com dignidade!


*Laryssa Cintra Martins Teodoro: Acadêmica de Administração da UFMS e Caroline Leite de Camargo: Professora de Direito da UFMS de Três Lagoas