O presidente Michel Temer assumiu oficialmente o mandato há menos de um mês. Foi no dia 12 de maio. Mesmo estando na vaga da presidente cassada Dilma Rousseff por noventa dias antes de sua oficialização no cargo, é cedo para ser cobrado de resultados nem da apresentação de projetos que solucionem os imensos e inúmeros problemas que herdou. Contudo, é alvo de manifestações contrárias ao seu governo quase que diariamente e de canto a canto do país. Foi assim com Itamar Franco, que herdou o também combalido governo de Collor de Melo?
Na data cívica mais importante do país, 7 de Setembro, Temer ouviu vaias da manhã ao anoitecer, desde o Desfile da Independência, em Brasília, até a abertura dos Jogos Paralímpicos do Rio, no Maracanã. Os locais eram próprios para manifestações?
É evidente que o direito à manifestações e a protestos deve ser preservado. Afinal, ele faz parte do conjunto de regras e leis do país. Mas, o impeachment não faz parte destes regramentos?
É descabido afirmar que foi o presidente ou unicamente seu partido quem derrubou Dilma. O conjunto da obra derrubou a ex-presidente.
Dilma vacilou desde que assumiu seu primeiro cargo, no governo de Lula. Impositiva, nunca amealhou apoiadores nem cultivou os relacionamentos que a política exige. Foi rasteira quanto ao cumprimento de acordos partidários e nunca deu muita bola para o que até mesmo os aliados apontavam de erros ou acertos. Não poderia dar em outra coisa senão uma chefe do Executivo desprovida da sustentação política que o cargo carece e exige.
Errou feio em manter o desgastado discurso de Lula, que criou uma guerra de “nós contra eles” e alimentou sem economia a fogueira das divergências, mesmo com seguidas tentativas de colar a imagem de líder político incomparável, que não erra nunca.
E o que dizer das derrapagens da presidente no uso do vernáculo? De duas alocuções invertebradas (mandioca, bola de meia, vento ensacado etc) e de sua volúpia em contra-atacar sem avaliar danos? Mais ainda, dos 12 milhões de desempregados, das fantasias da campanha eleitoral de 2013 e da montagem da tropa de choque mais voraz que se viu no Congresso Nacional? Tudo, sem tocar no escândalo de aliados atolados nas falcatruas apuradas na Lava Jato.
E Temer merece todas as vaias com menos de quatro meses no governo?
O direito a manifestações públicas precisa ser exercido com comedimento em todos os casos. Por mais direito que seja, não carrega nenhuma margem de liberdade para o exagero. E é isso que se viu não apenas os apupos do desfile ou do Maracanã. Nas ruas das capitais, quase invariavelmente, manifestações se transformam em atos de vandalismo e quebra-quebra. Isso é democrático?
Um presidente precisa de apoio para governar um país do tamanho do Brasil. Neste momento tão delicado, Temer precisa de críticas, de avaliações e de acompanhamento para que não cometa erros. Precisa de um Congresso vigilante e de brasileiros que olhem como governante e não como inimigo. E que nas urnas, no Congresso ou no Poder Judiciário lhe dê a paga devida, pelo bem ou pelo expurgo.