Veículos de Comunicação

Opinião

O dólar nosso de cada dia

A moeda, criada em 1776, nos Estados Unidos que, à época, não possuíam um sistema monetário unificado, só ganhou força após a Segunda Guerra Mundial

O dólar é uma das moedas mais importantes do mundo, por ser a principal moeda utilizada em transações comerciais mundiais, além de ser empregada por bancos centrais de inúmeros países na adoção de reservas internacionais. A moeda, criada em 1776, nos Estados Unidos – que, à época, não possuíam um sistema monetário unificado –, só ganhou força após a Segunda Guerra Mundial, quando os países da Europa, abalados, tornaram-se dependentes de produtos estadunidenses. Até então, a libra possuía o título de moeda internacional, porém o cenário devedor que se abateu sobre a Inglaterra fez que o dólar lhe tomasse o lugar.

No Brasil, sua importância também é incontestável: diariamente, jornais e telejornais informam a cotação do dólar. Desse fato, alguns questionamentos emergem, sobretudo na “mente” dos leigos em questões dessa natureza: “Como essa cotação é feita?” “Em que influencia?”.

Aqui, o valor do dólar é definido como o de qualquer produto, seguindo a lei da oferta e da demanda: quando há muito dólar circulando no mercado, ele passa a ser desvalorizado e seu valor diminui; quando há mais procura, ele se valoriza, aumentando-se seu valor.

E o governo? O governo, por sua vez, não tem o poder de alterar a moeda de forma concreta. Ele possui reservas de dólar, que podem influenciar na cotação por meio do Banco Central, comprando ou vendendo, mas ainda assim seu poder é limitado: só tem poder para alterar um valor mínimo.

A baixa do dólar em relação ao real afeta de forma direta as empresas voltadas ao mercado nacional, passando seus produtos a concorrer com os importados. Assim, por um lado, favorece o importador, cujos produtos, com preços menores, depõem os nacionais, e o investidor nacional, que aproveita esse momento para investir no exterior. Também beneficia o turista brasileiro, porque os destinos internacionais ficam mais acessíveis. Por outro lado, prejudica as empresas voltadas às exportações, reduzindo sua competitividade em relação aos produtos de outros países.

O aumento do dólar, por sua vez, prejudica as empresas que atuam no mercado interno, porque provoca o aumento do valor de matérias-primas importadas e de equipamentos cujo valor de compra utilize a moeda americana como referência. Com o aumento dos preços, os brasileiros deixam de comprar produtos importados, preferindo os nacionais, assim como passam a preferir destinos nacionais para suas viagens.  Ademais, empresas de grande porte e o governo veem-se prejudicados, porque muitas de suas dívidas são cotadas em dólar. Em contrapartida, beneficia o setor da exportação, pois os produtos brasileiros ficam mais baratos e competitivos no exterior. Além disso, pelo fato de as viagens ao exterior ficarem mais caras, o turismo interno é, notadamente estimulado – e o país também se torna mais atrativo a turistas internacionais.

Não se pode deixar de mencionar a influência de fatores subjetivos na oscilação da moeda americana, a que muitos economistas chamam de “fatores psicológicos”. Em síntese, trata-se de informações, muitas vezes sem fidedignidade da fonte, que são “lançadas” no mercado e acabam por afetar o comportamento dos investidores. E estes, por medo de perderem seus recursos, alteram seus planos de investimentos e deslocam o capital para outros ambientes que considerem mais seguros. Esses efeitos, que exercem grande impacto na valorização ou desvalorização da moeda dominante, são estudados pelas “Finanças Comportamentais”.

Atualmente, o Brasil vivencia um cenário de valorização da moeda norte-americana, que atinge seu maior patamar em 12 anos, por influência de fatores internos e externos. Segundo a economista Mirim Leitão, “Com o aumento do dólar as commodities começam a subir e demais itens, como combustíveis e alimentos, também sofrem essa influência, impactando diretamente na inflação, ou seja, dólar subindo é mais inflação, dólar caindo é risco de desindustrialização”. Portanto, em curto prazo esse aumento deve gerar impacto na economia brasileira, especialmente por pressão inflacionária.

Esse aumento do dólar pode gerar um abalo no bolso do brasileiro, mas, apesar disso, beneficiar a indústria nacional, pois pode acarretar o aumento das exportações e ajudar o país a equilibrar a balança comercial.

Aline Araújo de Moura: Acadêmica do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS

Edenis Cesar de Oliveira: Professor Adjunto da UFSCar – Campus Lagoa do Sino – Buri/SP