A população idosa no Brasil cresce intensamente. Estima-se que mais de 18 milhões de brasileiros vivam hoje na fase da chamada “terceira idade”. Dados do IBGE apontam que em 2050 nossa demografia vai sofrer uma alteração significativa: em termos absolutos, os jovens (que hoje são 51 milhões) formarão um contingente populacional de 28 milhões de pessoas, ao mesmo tempo em que aqueles que terão mais de 60 anos somarão mais de 60 milhões.
Ou seja, nas próximas décadas aumentará em três vezes o número de idosos. Para muitos estudiosos, estes números preocupam. O Brasil vai envelhecer muito rápido. Esse fator socialmente novo provocará impactos profundos nos sistemas de assistência social, bem como na cultura geral dos brasileiros.
Este tema, inclusive, ganhará espaço na mídia por conta do debate sobre o reajuste dos aposentados e do fim do conhecido “fator previdenciário”. O Governo, desde já, enfrenta o dilema de ter que fazer apções: manter as atuais regras de concessão de aposentadorias – confirmando o conceito de proporcionalidade na relação entre tempo de concessão e valor do benefício – ou mudá-las, o que permitirá que homens e mulheres considerados “maduros” possam se aposentar sem o lastro de equilíbrio entre o tempo de contribuição com o valor dos proventos da aposentadoria.
A situação é especialmente complexa porque coloca em discussão conceitos sobre as diferenças entre o que se considera “envelhecimento legal” e “envelhecimento social”. O primeiro é o que se estabelece por lei em conformidade com tabelas demográficas e a capacidade de produção do País. O segundo comporta um debate mais elástico, porque as pessoas de modo geral estão se tornando mais longevas (e com boa saúde) graças aos avanços tecnológicos da medicina e das pesquisas sobre genética, células tronco, medicamentos e vitaminas.
Diante deste quadro, será importante que a sociedade comece a discutir políticas públicas que possam se adequar com a nova realidade que vamos vivenciar. Se a população envelhecida crescerá desproporcionalmente em relação a outras faixas etárias, nada mais correto darmos início ao processo de preparo das instituições para que possamos enfrentar satisfatoriamente estas mudanças.
Por esta razão, temos trabalhar pela valorização das pessoas que querem envelhecer com dignidade. Mais do que isso, devemos preparar as novas gerações para que tenham um olhar mais generoso para com os mais velhos, visto que eles são depositários da memória e da experiência social. O filósofo italiano Norberto Bobbio tem uma reflexão interessante sobre esta questão quando diz que “o velho sabe por experiência aquilo que os outros ainda não sabem e precisam aprender com ele, seja na esfera ética, seja na dos costumes, seja na das técnicas de sobrevivência”.
Neste aspecto, considero fundamental que intensifiquemos ações que valorizem os homens e mulheres que estão em processo de envelhecimento, integrando-os socialmente para que eles sejam vozes ativas da sociedade. Isso só será possível com o fortalecimento das leis protetivas aos idosos, com a melhoria do sistema de saúde pública, com o equilíbrio fiscal e com o melhor gerenciamento da previdência social.
Não podemos perder a oportunidade de construir uma Nação com os olhos voltados para o futuro. Temos que implementar programas que dignifiquem nossos idosos dando-lhes status de cidadãos que carregam não só a história do País, mas a experiência consciente que representa a sabedoria dos anos acumulados.
Marisa Serrano é senadora e vice-presidente nacional do PSDB