Foi amplamente noticiado o fato de o Brasil não ter alcançado as metas traçadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico no tocante à educação. Ficamos aquém dos nossos objetivos em qualidade de ensino, erradicação do analfabetismo e diminuição da repetência e da evasão escolar.
Nessas horas, procede-se a uma espécie de caça às bruxas. Pedagogos, secretários da educação dos municípios e dos estados, professores, empresários – todos são instados a se manifestar sobre o problema, a apontar culpados e a sugerir soluções.
Não sou da área de educação, por isso não vou me aventurar a discutir esses aspectos. Porém, considero fundamental salientar que essa dificuldade em suprir lacunas na Educação vem impactando diretamente a vida do País.
O Brasil tem plenas condições de se tornar uma das maiores economias do mundo em menos de quatro décadas. Mas, para chegar a esse patamar, vai depender basicamente da produtividade da sua força de trabalho.
Hoje, é comum os empresários se queixarem da falta de mão de obra qualificada. Há um verdadeiro “apagão” de engenheiros, geólogos, estatísticos e outros profissionais com alta especialização, sobretudo na área de Exatas, para atender às necessidades do País. Essa deficiência afeta justamente as áreas em que nós temos mais potencial para crescer, tais como a construção civil, a exploração de minérios e hidrocarbonetos e o agronegócio com viés autossustentável.
Além de faltar profissionais, muitos daqueles que já são diplomados têm uma preparação insuficiente para as necessidades do mundo dinâmico e globalizado no qual estamos inseridos. No Brasil, a média de tempo de estudo da população economicamente ativa é de apenas 3,5 anos, contra 10 na China, 11 anos no Japão e 12 nos Estados Unidos. Como resultado dessa falta de qualificação, metade dos brasileiros trabalha na informalidade – destes, 20% recebem menos de um salário mínimo por mês, e mais de 50% cumprem jornada integral de trabalho. Essas informações podem ser conferidas no Mapa do Mercado de Trabalho no Brasil, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Não basta que as pessoas obtenham certificados. É preciso que seu conhecimento seja compatível com os padrões internacionais de qualidade e desempenho. Se, vinte anos atrás, o fato de uma pessoa saber escrever o próprio nome bastava para classificá-la como ‘alfabetizada’, hoje ela só será considerada não-analfabeta se for capaz de ler e entender um manual de instruções e de produzir textos coerentes. Essa elevação do patamar de exigência se replica, de forma proporcionalmente igual, em todas as outras esferas de formação e conhecimento.
Como eu disse no começo deste artigo, não sou um profissional da educação. Mas sou uma pessoa que vivencia o dia-a-dia das empresas em um grande número de segmentos. Com base nessa experiência, posso afirmar que é indispensável fortalecer a base, para que a educação se construa sobre alicerces sólidos. Em outras palavras, é no ciclo básico, e a seguir no ensino médio, que se estrutura o profissional apto e competente que dará conta dos desafios futuros. A matemática dos bancos de colégio é o ponto de partida para a formação de um grande físico, geólogo, programador, engenheiro etc. E a pedagogia moderna deve valer-se de seus instrumentos para ajudar a formar pessoas curiosas, criativas e abertas ao aprendizado constante. Somente assim teremos como acompanhar as novas tecnologias, e quem sabe um dia, nos antecipar a elas.
Eduardo Pocetti é CEO da BDO Auditores Independentes.
Opinião