“São Jobim da Brasiléia defendei os passarinhos, protegei aos cantadores que tiram versos do acaso ou ficam criando caso entre o som e a palavra.
Santo Antônio Brasileiro, senhor de toda a harmonia livrai da mão que judia, pedras, plantas, bichos, gentes, que, aflitos, ambos sabemos têm andado tão doentes.
São Jobim tende paciência com essa reza tão comprida. Na falta d’outra saída sempre ao milagre se apela. Tornai a vida mais bela, digna, ética e solidária, curai do mundo a ferida.
São Jobim meu Tom Santinho meu dom pequeno envernize, fazei com que se precise de música eternamente e ensinai a toda gente um jeito de abrir as asas.”
Envolvido com o estudo e atendimento de pessoas com dificuldades emocionais há mais de duas décadas, simbolicamente inspiro meu trabalho na "Reza ao São Jobim da Brasiléia" (composta pelo poeta passo-fundense Raul Boeira) e no psicanalista José Bleger.
Vislumbrando o sofrimento e a aflição de homens e mulheres em função dos percalços da vida, desejo poder contribuir para que essas pessoas desenvolvam o seu jeito de "abrir as asas". Nessa perspectiva visualizo os problemas psicológicos inseridos em vários contextos, inclusive no âmbito dos preconceitos que subjazem a processos de exclusão social.
Nem sempre é imediatamente aparente a ligação entre problemas emocionais e exclusão social, mais comumente associada a condições tais como deficiências físicas e mentais, homossexualidade, negros ou soropositivos, enfim, grupos de minorias em relação aos quais as práticas sociais excludentes são mais visíveis. No entanto, meu trabalho é um sub-projeto do "Projeto integrado sofrimento humano e exclusão social: pesquisa de enquadres diferenciados para abordagem psicanalítica preventiva de condutas preconceituosas no Brasil e na França", capitaneado pela Livre Docente Tânia Aiello-Vaisberg, aprovado pelo comitê de ética da Puc de Campinas. Deste modo, meu trabalho faz parte de um conjunto de investigações que tanto visam gerar mudanças em subjetividades grupais como de respaldar a produção de conhecimento para tornar a vida, individual e coletiva, mais prazerosa.
Neste sentido o papel do psicólogo clínico aborda a dramática humana de crianças, adolescentes e adultos, incluindo preocupações sócio-econômicas e não apenas o funcionamento psicológico. Assim, consideramos os problemas emocionais em termos de experiência subjetiva dotada de múltiplos sentidos. Desta forma, tentamos captar campos psicológico-vivenciais não conscientes, destacando que o trabalho psicanalítico pode orientar a proposição de práticas psicoprofiláticas e não apenas curativas, o que contribui para a diminuição do sofrimento emocional e para uma vida mais bela, digna, ética e solidária.
Paulo Martins é doutor em Psicologia e professor da AEMS/UEMS/FIPAR