Oportunidades de ascensão social, acesso universal à saúde e à educação de qualidade, crédito fácil e rápido para a realização imediata de sonhos e projetos de vida, taxas pífias de desemprego e menor desigualdade social: estes são alguns dos sonhos comuns a todos os brasileiros, e não há eleição em que os candidatos não saibam explorá-los muito bem.
Na enxurrada de promessas, fica de lado uma questão crucial: como construir esse “novo mundo”?
Com certeza, as boas intenções não bastam. Qualquer processo de transformação deve passar, necessariamente, pelo sistema econômico que se estabelece, por primazia, na tentativa de conduzir a atividade econômica por um caminho, digamos, “virtuoso”. Dessa forma, a economia passa a ter esse poder de melhorar ou prejudicar não apenas um quadro geral, de alcance macro, e por isso mesmo um tanto abstrato, mas também as vidas reais dos indivíduos.
Vamos pensar nas aventuras que vivenciamos na década de 80, quando se tentou, de inúmeras formas, vencer a inflação por meio de planos mirabolantes. O que os planos econômicos da época, com suas propostas milagrosas e sucessivas mudanças de moeda, significaram para a imensa maioria dos brasileiros? Perda de emprego, queda de rendimentos, incertezas quanto ao futuro. Pequenos empreendedores foram massacrados, investidores estrangeiros ficaram temerosos e os jovens se viram completamente perdidos, sem perspectivas. A economia mal conduzida resultava, portanto, em dramas humanos reais, dos quais podemos encontrar exemplos concretos bem pertinho de nós.
Por isso, acima de quaisquer siglas, cores ou bandeiras partidárias, os candidatos que ora disputam a Presidência da República devem se comprometer com a estabilidade e com a gestão responsável. E dessa gestão responsável faz parte a atenção às questões sociais.
A ciência econômica moderna pressupõe a inclusão da esfera social, ou, para usar a linguagem mais corrente nos dias de hoje, deve contemplar a questão da sustentabilidade. Devemos, portanto, aprimorar o modelo vigente considerando que o elemento humano e a questão ambiental encontram-se indelevelmente atrelados ao desempenho econômico. Não há prosperidade que resista a problemas estruturais profundos; ao mesmo tempo, a manutenção de uma constante e elevada taxa de crescimento é condição indispensável para a melhoria das condições de vida da população.
Por isso, o próximo – ou próxima – governante do País tem de assumir um compromisso tácito com a realização de investimentos, com a prática de uma política financeiro-cambial consequente, com o aprimoramento das políticas de distribuição de renda e com a adoção de medidas que preparem o Brasil para o futuro – e isso abrange desde as necessárias melhorias em infraestrutura (portos, aeroportos, energia, telecomunicações, saneamento básico) até o aprimoramento da educação, sem a qual o Brasil correrá o risco de “ficar para trás” nestes tempos de aguerrida competição global.
Eduardo Pocetti é CEO da BDO, quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services.