* Cláudio Ribeiro Lopes
Passei a refletir, com alguma vagarosidade, nos últimos dias, sobre a “nova onda” do uso e abuso do denominado “pau de selfie”. Eu, mesmo, já pensara em adquirir um, fato. Mas – não creio ser por falta de condições financeiras e, sim, por algum incômodo que me assola – ainda não o fiz. Nessa manhã, decidi entrar em mim e tentar entender o porquê da minha recusa em possuir algo que se tornou quase banal.
Assim foi e passei a tentar analisar quais os benefícios do tal “aparelho” quando, de repente, deparei com a ideia de que, antes de sua criação, as pessoas, geralmente, tinham duas opções muito básicas: a) um dos membros do grupo não saía na foto, já que ele era escolhido ou se voluntariava para ser o fotógrafo; b) pedia-se a um terceiro, geralmente estranho, com muita delicadeza, que ele fizesse as honras e captasse aquele momento especial. Estando só, apenas a segunda opção era válida.
Com o tal “pau de selfie”, a tarefa ficou muito mais simples, é verdade; e mais célere também (e, aqui, fico a imaginar o que Zygmunt Bauman estará a refletir sobre isso…), mas inquieta-me que a segunda opção tenha sido quase totalmente descartada com o emprego da nova “utilidade”.
Agora temos amplas condições de viver numa sociedade do espetáculo (leiam Guy Debord, por favor) e nem mesmo precisamos do próximo para esses momentos mágicos; assim, a interação entre pessoas, que já não andava nada bem, fica minada, senão destruída. As pessoas não precisarão encontrar qualquer pretexto para iniciar um diálogo, por mais frugal que ele possa ser; cada um no seu “quadrado” e desconfiando, o tempo todo, da maldade alheia.
Eis o paradoxo: em sociedade, estamos cada vez mais expostos, porém, no lado diametralmente oposto, cada vez mais sós (Renato Russo cantava que o mal do século era a solidão…), menos interativos, mais cabisbaixos, menos altruístas…
Então, decidi não comprar o tal “pau de selfie” e vou continuar insistindo em fazer novos amigos, em pedir ajuda, em “perder” alguns minutos de conversa-fiada com o próximo; talvez não sejamos mais tão estranhos ao cabo de tudo isso…