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O poderoso crack será destronado

Crianças e adolescentes viciados nas ruas e carvoarias. Jovens e adultos chapados nos garimpos e lavouras. Meninas drogadas na zona rural ou aldeias indígenas. Retrato triste esse do Brasil que agoniza, geme e pede socorro. Ternos justos para políticos que pensam, supõem, mas não agem com segurança para colorir a fotografia e a vida dessas pessoas.

“O Brasil é o maior mercado consumidor de crack do mundo. Acho que não tem local, região ou mesmo cidade que esteja imune do acesso do mercado do crack. Nós temos aí um amadorismo das políticas federais que é incompatível com a dimensão do problema. A sociedade precisa saber se nós continuarmos nesse amadorismo que nós vamos continuar pagando um preço alto com as grávidas usando o crack, com os adolescentes usando o crack e com um custo para as famílias muito grande”, segundo Ronaldo Laranjeira. Essas palavras, ditas pelo médico, excelente por sinal, apenas confirmam as pesquisas.


Em todo o Brasil, sejam os indígenas no Amazonas, os lavouristas do norte a sul, os garimpeiros no nordeste, os fornos clandestinos de carvão, do leste ao oeste, do norte ao sul o crack está disseminado. No mundo inteiro não há uma discrepância tão grande como esta, assistir às pessoas se flagelando, consumindo-se, devido a essa droga. Do outro lado, felizmente, há os lutadores que, com habilidade, tentam reverter esse quadro negro da sociedade. 


Os índios, nas aldeias do Amazonas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, infelizmente, já conhecem o crack. A poderosa droga, além do alcoolismo, avança até as reservas indígenas, deixando os rastros do vício. O poder público, tanto o estadual quanto municipal, não sabem como enfrentar este problema. Relatos de índios, de diferentes etnias e aldeias, dizem que há apenas a tentativa de enfrentamento em palestras nas comunidades. E após o encerramento, eles voltam a consumir o crack.


O trabalho cansativo e perigoso dos garimpeiros é a alegação dos usuários naquela região. No Sertão Baiano, flagrante é algo muito raro de se fazer, devido à pequena quantidade de crack que os traficantes vendem. Os garimpeiros trocam essa pedra pela pedra preciosa, fazendo do escambo a sua sobrevivência.


Mostra-se o lado bonito das plantações brasileiras, mas também há o lado feio que germina, mascara. O crack cresce entre as plantações. Mata aquele que não tem mais condições de reverter à situação. Mata aquele que brota da terra. Seja no sudeste, no centro-oeste, no nordeste, no norte e no sul. Seja na pecuária, na cana-de-açúcar, no café, na soja, no milho, no trigo, onde for, o crack vai atrás.


Não há números oficiais, mas apontamentos mostram que há fornos de carvão clandestinos no chamado triângulo do carvão, constituídos pelos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. O crack, infelizmente, virou moeda de troca no submundo do carvão. Órgãos federais e estaduais precisam – e rápido – averiguar estes casos.


As reclamações, do norte ao sul do Brasil, são as mesmas – o famigerado crack destrói famílias, corrói adolescentes, dizima crianças. Até quando vamos ouvir no noticiário as propostas vãs vindas dos governos? Será que é real a ação do Governo de São Paulo? E os outros estados, vão presenciar a discórdia enquanto o crack se dissemina com mais força? Sei que é extremamente difícil tirar os crackeiros da rua. São poucas as pessoas que realmente se interessam pelo problema, mas a conscientização tem que partir da nossa família, do nosso amigo, do nosso vizinho, porque assim será possível destronar esse poderoso inimigo – o crack.

*Cilene Queiroz, escritora, bióloga, Mestre em Sistema de Produção em Agronomia