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O Pseudopoder e a Sabedoria

É comum no ambiente profissional ouvirmos o dito popular: “manda quem pode; obedece quem tem juízo”. Na definição de fluxos de trabalho é bem possível que essa frase tenha sua serventia e sua dose de verdade. No entanto, o poder, seja o verbo ou seja o substantivo, é exercido, na maioria das vezes, por pessoas inábeis e presunçosas. São os pseudopoderosos. Uma turma mesquinha e apequenada que, por pura insegurança, escrevem na testa “quem manda aqui sou eu” e desfilam por nossas vidas diariamente, sem a menor noção do quão patéticos e cafonas nos parecem e, de fato, são.
Quem já teve a feliz oportunidade de trabalhar, conviver ou simplesmente conversar com um grande empresário de sucesso, um executivo de primeiro gabarito ou até mesmo um político com “P” maiúsculo, logo percebe o quanto são atenciosos ao que lhes interessa e educados e delicados em qualquer tratamento. Assim o são por sabedoria. Talvez só tenham alcançado o píncaro por agirem dessa forma. Isso não significa que sejam tolos, frágeis ou facilmente manipuláveis. Apenas reconhecem com sabedoria o poder que tem. Educadamente o exercem. Raramente o demonstram.
Em geral, quem muito gosta de demonstrar poder, não o tem. Sequer o exerce. Cobre o rosto com a arrogância peculiar a esse tipo de personalidade, disfarça suas incompetências com belos trajes e tem sempre uma grosseria ou indelicadeza escondidas na manga e prontas ao destilo. Talvez nem sejam assim por maldade ou o façam por má-fé. Na roda viva do mundo, sabem que só dessa forma conseguem sobreviver. Nada mais lhes resta. Nem suas próprias vidas. Sobrevivem gozando da vida de outro, do poder de outro.
O falso poderoso, além de poucas qualidades, é incompetente. Grande parte de sua insegurança está justamente no fato de não deter conhecimento técnico suficiente para o exercício de suas atividades. Por tamanha dependência de quem o sustente, manipula a autoridade numa espécie de alquimia e é um excelente ilusionista. Essa é sua pior face. Quando alguém pergunta porque determinados ambientes profissionais não evoluem ou conseguem sucesso em intentos básicos, a resposta geralmente está nas ilusões plantadas por um “superior” exercendo mal suas atribuições. Mas como a corda sempre arrebenta do lado mais “fraco”, é comum uma demissão técnica em massa e a preservação de alguém cujo status quo tem bases de Q.I. (Quem Indica) ou no pseudoporismo.
Os espaços governamentais são terras férteis para pseudopoderosos. O simples acesso ao “dono da caneta” faz do mais ignóbil dos seres a mais poderosa das criaturas. Falsamente poderosa. A estratégia mais comum a esse tipo é ser mal educado e de difícil trato no cotidiano. Repelem qualquer movimento que possa sobrepujá-lo ou evidenciar suas mazelas profissionais. Gostam de fingir desdenho quando o medo lhes acomete. Usam o deboche como principal escudo. São incapazes de dividir forças e tarefas, multiplicando, dessa forma, os resultados. Centralizam informações e dados. Estão sempre duelando. E são sempre reféns da inveja dos resultados alheios.
Em tese, são facilmente dispensáveis e substituíveis. Mas há sempre algo ou alguém que mantém os pseudopoderosos confortavelmente instalados em seus postos. Portanto, é sempre bom caminhar com cautela ao seu lado, pois uma rasteira pode estar pronta quando menos se espera. Um bote de serpente.
Mas quando você ficar cara a cara com um pseudopoderoso, não se assuste. Não se intimide. Jamais se curve. Seja apenas educado. Lembre-se que educação é como cidadania: deve ser exercida. O verdadeiro poder é vizinho dileto da sabedoria e as chaves dessas casas só quem tem são aqueles capazes de reconhecer no outro uma fatia de si mesmo e, por isso, respeitá-lo. Deixemos aos falsos poderosos a ignorância, a inabilidade e a insegurança. Seu desfile pela passarela da vida pode até parecer longo, mas a queda no precipício do esquecimento é apenas uma questão de tempo.

 Helder Caldeira é Assessor Político e Institucional do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Estado do Rio de Janeiro.