Em junho deste ano ocorrerá, no Rio de Janeiro, a Conferência do Clima, organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), mais conhecida como Rio+20. Essa conferência ocorrerá 20 anos depois da ECO-92. O evento reunirá representantes de governo de 193 países e o tema principal que será discutido será o da promoção de uma economia verde, tentando definir um objetivo comum de desenvolvimento pelos diversos países para as próximas décadas.
Mesmo antes de começar, a conferência tem sido alvo de grandes polêmicas na mídia. Enquanto os responsáveis pela organização do evento defendem que tanto os empresários como as questões econômicas e sociais devem ser incluídos na discussão, em função dos efeitos da crise financeira internacional, a queda no PIB (Produto Interno Bruto) em alguns países europeus, as evidências do desaquecimento da economia mundial e do desemprego, outros especialistas e economistas do mundo todo alegam que a ONU e a organização brasileira do evento estão desviando a atenção do debate dos problemas ambientais, que mostram, cada vez mais, evidências científicas de piora.
De acordo com os críticos, o que os organizadores da conferência estão querendo defender é que as inovações tecnológicas que vêm ocorrendo são capazes por si só de resolver os problemas ambientais atuais. Há realmente evidências de grandes evoluções na área da economia verde, mas também sinais de ocorrência de uma degradação ambiental cada vez maior. Ricardo Abramovay, em seu artigo na Folha de São Paulo de março deste ano, diz que um estudo da KPMG demonstrou que, no ano de 2011, cada dólar do PIB global foi conquistado com uma redução de 21% das emissões de gases efeito estufa e 23% a menos de utilização de recursos, comparados a dados de 1990. Apesar da redução das emissões por dólar de PIB, houve aumento da produção e do consumo mundial e, como resultado desse aumento, houve uma elevação de 39% das emissões de gases que causam o aquecimento global e de 41% na extração de recursos naturais.
A Convenção do Clima foi assinada durante a Conferência da ECO-92, mas foi o lançamento do documentário de Al Gore, “Uma Verdade Inconveniente” , no final do ano de 2006 e a publicação do quarto relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) sobre mudanças climáticas, intitulado “Novos Cenários Climáticos”, no início de 2007, que despertaram novamente a discussão sobre o aquecimento global e seus possíveis efeitos para as várias partes do planeta. O relatório do IPCC era bastante pessimista e foi publicado num período em que várias partes do mundo passavam por catástrofes naturais como enchentes, furacões, secas, etc. Apesar de alguns cientistas contestarem o relatório do IPCC, juntamente com o documentário de Al Gore ele reacendeu a discussão na mídia e a população, de todas as classes sociais, começou a se preocupar e a discutir o problema do aquecimento global. Em função disso, tanto o IPCC como Al Gore dividiram o Prêmio Nobel da Paz de 2007.
A partir daí, a população começou a exigir mudanças nos processos produtivos das empresas e, estas, independentemente da existência ou não de exigências de políticas regulatórias dos países em que se instalaram, por pressões sociais, começaram a introduzir mudanças em seus processos produtivos. O problema é que a crise financeira internacional se agravou em 2008 e parte das pessoas que se preocupavam com o aquecimento e suas evidências, passaram a se preocupar em garantir seu emprego. As empresas, por sua vez, passaram a se preocupar em cortar custos.
Os efeitos da crise econômica continuam, principalmente em alguns países europeus. Hoje já se discute até a permanência ou não de alguns países como a Grécia na zona do euro. É nesse cenário que vai ocorrer a Rio+20, em que do famoso tripé da sustentabilidade – os pilares econômico, social e ambiental – atualmente, os pilares que mais preocupam os governantes são os dois primeiros, apesar das evidências de deterioração do cenário ambiental.
Vários especialistas acreditam que as discussões da Rio+20 desencadearão um retrocesso e uma cortina de fumaça em relação à discussão principal que deveria permear o evento, que seria a redução dos padrões de consumo global. A preocupação é que, em função da crise nos países europeus, a ênfase na discussão dos pilares econômico e social ofusquem o pilar ambiental na mesa de debates da Rio+20. Só nos resta torcer para que eles estejam equivocados.
Carmen Varela é professora do curso de graduação e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Administração do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana)