Aproveitando a iminência do Dia Internacional da Mulher, risco um paralelo entre a evolução sócio cultural da mulher e a evolução da cirurgia plástica. Essa data, ao ser criada, não pretendia apenas comemorar. O objetivo é discutir o papel da mulher na sociedade atual.
No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como redução na carga horária diária para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho por dia), equiparação de salários com dos homens (elas chegavam a receber até um terço do salário de um homem para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente em que trabalhavam. A manifestação foi reprimida com grande violência. As mulheres foram trancadas e queimadas dentro da fábrica. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.
A história nos mostra que em meados do século XX, no Brasil, ainda existia uma enorme discrepância entre as regalias dos homens e das mulheres. Não se esperava da mulher que ela fosse companheira do marido, pelo contrário, as suas principais atividades giravam em torno da criação dos filhos e da prestação de serviços ao homem. Esperava-se da mulher que ela ficasse quieta em público. As mulheres definiam para si uma série de papéis submissos e dependentes do sexo oposto. O conformismo era o traço predominante no relacionamento entre elas.
Por volta de 1970, as mulheres elevaram seu nível educacional. A educação acabou facilitando a participação crescente delas no mercado de trabalho. Mas não é só isso. Os investimentos das mulheres em educação têm impactos que vão muito além do seu progresso pessoal. Elas, quando educadas, cuidam melhor da sua saúde, da saúde da família e, em especial, das crianças. Mães educadas transferem bons hábitos de higiene para os filhos e orientam suas vidas de modo mais seguro. Elas ajudam as crianças na escola, reduzindo a repetência e a evasão. Ou seja, a educação da mulher se transfere para as gerações seguintes. Além disso, a educação leva as mulheres à liberdade sexual e a terem menos filhos, diminuindo o risco da gravidez indesejada e reduziram o tamanho da família. Ocupam agora uma posição estratégica na modelagem da sociedade.
Todos esses acontecimentos ajudaram a criar um estereótipo de mulher, constantemente em busca da “perfeição”. Elas “têm” que ser modernas, práticas, capazes de exercer suas funções domésticas, conviverem bem em diversos segmentos da vida social, e ainda, estarem belas.
Temos que reconhecer que, com a nova posição social da mulher como consumidora exigente e diferenciada, o poder de compra vem crescendo de forma acelerada, despertando o interesse de inúmeros setores do mercado. Isso obriga o mercado feminino a estar constantemente atualizando, na intenção de atender às necessidades desse público.
Avaliando essa evolução, foi possível apreender que, mesmo diante da necessidade de modernização, libertação e versatilidade, a mulher continua desenvolvendo o seu papel de dona-de-casa, administradora do lar, mãe e esposa, porém, tendo a necessidade de manter-se bela e atraente ao colocar em prática o seu poder de sedução.
O avanço da noção dos direitos humanos e o aumento da demanda pelo tratamento adequado marcam as próximas décadas com um movimento francamente equalizador, entre aqueles que durante séculos foram tratados de forma diferente no trabalho e na sociedade. Tudo indica que este e é o século da mulher.
Fernando Fernandes é médico cirurgião plástico