Li com preocupação recente material veiculada no Jornal o Estado de São Paulo entitulada “Governo discute socorro a Eike Batista”. O empresário Eike Batista, que vinha surfando na onda de liquidez internacional, na gestão PT, convenceu muitos investidores a alocar recursos em seus megaprojetos, boa parte deles ainda em fase de plano de negocios, ou seja, que não existem além das planilhas com informações financeiras de perspectivas futuras de ganhos, caso os recursos sejam captados, investidos e administrados dentro de certas premissas e de forma eficiente. Com o fluxo de caixa gerado pelos projetos, os investidores poderiam ter seu capital remunerado, mas, para tanto, correriam os riscos dos projetos e da gestão dos mesmos, como é natural no sistema capitalista.
Opinião
O X da questão
De 2006 a 2013, o empresário Eike Batista abriu capital (IPO) de 5 empresas (MMX, OGX, MPX, LLX e OSX), todas em segmentos com necessidade de capital intensivo, como mineração, petróleo, energia, logística e estaleiro, levantando recursos no montante de R$ 13,6 bilhões. No mesmo período, o BNDES emprestou aos megaprojetos do empresário R$ 10 bilhões. Ao final de 2012, as dívidas do grupo econômico do empresário X somavam R$ 15,8 bilhões.
Os jornais noticiam que o governo vai ajudar o empresário. Ajudar? Por quê? Tem algo errado nesta historia! Até onde aprendi o capital privado colocado em risco pode ganhar ou perder. Empresário pode ter sucesso ou pode ir a falência. Os empréstimos bilionários do BNDES ao empresário, que somam R$ 10 bilhões podem ser considerados uma bela ajuda. Muitos de seus colegas, com projetos consolidados e geradores de caixa, não conseguem levantar sequer um centavo.
O BNDES já foi usado para ajudar ao empresário X sem consulta a sociedade. Agora o governo vai usar a Petrobras para ajudar ao empresário X com desculpa de fazer uso do porto de Açu para escoar a produção do pré-sal. O pré-sal, assim como as empresas X, é uma promessa. Não é justo que a sociedade pague a conta do empresário X e de sua megalomania.
Por que o governo nāo faz uso do BNDES para financiar o déficit das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos? Nesta mesma semana os jornais noticiaram que o déficit anual das Santas Casas e dos Hospitais Filantrópicos é de R$ 5 bilhões. Valor bem inferior a soma de empréstimos feitos ao empresário X.
Existe algo errado, ou será que na verdade está tudo certo e o antigo PT – Partido dos Trabalhadores, em seu terceiro mandato no governo federal, está agora mostrando sua verdadeira face, PTX.
Se queremos criar um país justo, com menos desigualdade de renda, melhor qualidade de vida e menos violência, os recursos públicos precisam ser usados para causas públicas, não privadas. O sistema deve funcionar de forma igualitária para todos. O Estado não pode fazer uso dos recursos públicos para financiar a megalomania de alguns em detrimento da maioria.
*Cláudio Gonçalves dos Santos é economista