Há um excesso de pessimismo nas discussões relacionadas à Rio+20. Ao contrário de muitos, creio que isso é injustificado.
Parto de duas constatações. Primeiro, houve uma enorme penetração da “sustentabilidade” em territórios até então cegos e surdos ao tema. Antes da Rio-92 a sustentabilidade era assunto restrito a ambientalistas, ecólogos e alguns poucos líderes visionários de outros setores. O quadro atual é radicalmente diferente. Quando iríamos imaginar, por exemplo, que presidentes de grandes bancos, como o Bradesco e BNDES, gastariam cada vez mais tempo com temas relacionados à sustentabilidade? Quando imaginaríamos que a CNI reuniria em um evento da Rio+20 mais de 1.100 líderes empresariais para apresentar propostas concretas para uma produção industrial realmente sustentável? O que era impensável há 20 anos, hoje se tornou rotina. A sustentabilidade entrou definitivamente no centro do processo de tomada de decisões – para ficar.
A segunda constatação é de que há um processo de mudanças nas empresas, governos e sociedade civil. Elaborar relatórios de sustentabilidade virou rotina. O que era antes feito como assunto apenas de marketing vai se transformando em indicadores objetivos de consumo de energia, água etc.
Quando iriamos imaginar que empresas tradicionais, como a Abril e a Embraer, iriam investir em inventários das suas emissões de gases efeito estufa e fazer pesados investimentos na redução e compensação dessas emissões? Já existem resultados concretos da mudança da economia rumo à sustentabilidade.
Essa visão otimista deve, contudo, ser temperada. Ainda que possamos identificar avanços positivos, isso é ainda pouco diante do desafio de frear a degradação dos ecossistemas dos quais depende a vida no Planeta. É também pouco para erradicar a pobreza extrema, que atinge cerca de 1,5 bilhão de pessoas. É essencial aumentar a velocidade e escala das mudanças rumo a uma economia verde. Entretanto, não devemos esperar que a ONU consiga resolver isso por si só. Mas podemos esperar que a ONU contribua para a construção de novos paradigmas. Maior papel caberá às empresas e sociedade civil, com apoio dos governos locais. A Rio-92 foi muito bem sucedida ao disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável. Creio que a Rio+20 será igualmente bem sucedida em consolidar o conceito de economia verde.
Virgilio Viana é Ph.D. por Harvard; foi Secretario de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (2003-8) e é atual Superintendente Geral da Fundação Amazonas Sustentável.