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Os bastidores de uma fusão

O setor de varejo tem sido marcado pelas incertezas. Num momento marcado por grandes fusões e aquisições, o Brasil assistiu pela primeira vez um lado bem menos comum dessas parcerias estratégicas. O gigante formado em dezembro entre Pão de Açúcar e Casas Bahia pode estar com seus dias contados. A queda de braço da família Klein, insatisfeita com as condições da carta de intenção, colocam em xeque o empresário Abílio Diniz. Perda de credibilidade junto aos sócios franceses e queda no preço das ações do grupo são as consequências mais previsíveis.
O impasse demonstra um ângulo pouco divulgado das fusões e aquisições, a conturbada fase pós compra – responsável em grande parte pelo fracasso dos novos conglomerados. Jornais e revistas preferem apresentar em suas manchetes a face mais glamorosa. Investimentos e valores envolvidos, perfil dos empreendedores, novas fortunas e bastidores da negociação. Interessantes, geram curiosidade e vendas adicionais aos veículos.
Os profissionais mais experientes – aqueles cuja foto da carteira de trabalho é uma vaga lembrança – sabem que uma empresa nunca é igual à outra. As combinações são quase infinitas. Utilizemos as classificações por tamanho, nacionalidade e estrutura societária. Grandes ou pequenas, brasileiras ou multinacionais, familiares ou abertas. Tentar decifrá-las é tarefa que só se consegue após algum tempo, convivendo dia após dia.
Algumas têm estruturas mais orgânicas. Ambientes abertos, sem salas fechadas ou formalidades entre os colaboradores. Linguajar coloquial e roupas mais despojadas, refeitórios compartilhados entre diretores e estagiários e decisões compartilhadas. Horários flexíveis, políticas de home office e modernas ferramentas de trabalho a disposição, como notebooks e smartphones. 
Outras, por sua vez, têm estruturas que mais se assemelham às forças armadas. Promoções por tempo de serviço, respeito aos cargos e a hierarquia, vocabulário formal e respeitoso. Terno e gravata, tailleur e salto alto são os padrões vigentes. Horários pré-determinados, salas fechadas e divisões físicas entre a alta hierarquia e os subordinados.
Apesar das diferenças, não existe relação entre tipos de estruturas e resultados obtidos pelas organizações.  Assim como não há empresas iguais, existem profissionais que melhor se adaptam a descrições de cargo mais rígidas, enquanto outros preferem liberdade e autonomia. Encontrar esta identificação é meio caminho para o sucesso profissional.
Com o passar dos anos, a cultura da empresa permeia o indivíduo, criando uma relação de simbiose entre ambos. Vestimenta, perfil, linguajar e comportamento enviam pistas sobre a empresa contratante, antes mesmo de visualizarmos seu crachá.
Coloque agora num mesmo caldeirão empresas com estruturas orgânicas e hierárquicas, resultantes de fusões e aquisições. A dicotomia entre informalidade e formalidade, respeito à hierarquia e valor as competências, horários flexíveis e cartões de ponto, qualidade de vida e cumprimento de metas de curtíssimo prazo traz insegurança, desmotivação e resistência por parte dos envolvidos. Sonegação de informações, boicotes e formação de feudos são algumas das consequências.
Incerto ainda são os próximos capítulos da trama Pão de Açúcar e Casas Bahia, os quais ocorrerão nos bastidores em São Caetano do Sul ou na Avenida Brigadeiro Luis Antônio, em São Paulo. Prever seu resultado é incerto e prematuro. Todavia afirmo que em caso de final feliz, o trabalho para a consolidação do novo gigante terá apenas começado, apesar dos apertos de mão, sorrisos e discursos publicados pela mídia.

Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas e professor da Universidade Mackenzie.