Diante desse cenário preocupante, pode-se prever que no bojo das políticas econômicas restritivas que estão sendo adotadas por esses países, haverá cortes significativos nos recursos orçamentários destinados a programas sociais, o que representam uma ameaça para a sobrevivência do modelo de Estado de bem-estar social, e uma ameaça potencial para a coesão social.
É oportuno recordar que a origem do Estado do bem-estar social está relacionada a três elementos essenciais: a existência de excedentes econômicos passíveis de serem realocados pelo Estado para atender às necessidades sociais; o pensamento Keynesiano, que estruturou a sua base teórica; e a experiência de centralização governamental durante a 2ª Guerra Mundial, que fomentou o crescimento da capacidade administrativa do Estado (Matias-Pereira, 2010).
Os governos e a gestão pública no mundo contemporâneo são vistos com descrença e desconfiança pela sociedade, em função dos seus baixos desempenhos, que se situa aquém das expectativas dos cidadãos. É perceptível, também, que eles têm enormes dificuldades de se ajustarem aos ambientes instáveis com a velocidade necessária para reduzir os efeitos das mudanças. Essa postura pouco flexível, conforme revela a literatura, é responsável pela baixa capacidade de resposta da administração pública no atendimento das demandas da população em contextos de crise econômica.
Assim, em que pese o discurso dos governos, de que irão preservar o modelo atual de Estado de bem-estar, isso certamente não irá ocorrer. Fazer corte e reduzir despesas públicas, estimular o crescimento acelerado da economia e combater a inflação ao mesmo tempo, gerar estímulos para a inovação tecnológica ou implantar adequadamente os programas sociais e promover a redução da pobreza no país, por exemplo, não é uma tarefa factível de ser realizada em ambientes de crise.
Diante desse cenário de incertezas, onde as perguntas afloram com intensidade, e não existem respostas plausíveis para a maioria delas, a boa governança pública assume uma importância cada vez maior, no que se refere à busca de soluções para as demandas complexas da sociedade que estão sob a responsabilidade do Estado, notadamente daquelas políticas públicas vitais para a manutenção da coesão social.
José Matias Pereira é professor-pesquisador