Nada mais atual. Há muito tempo, lá pelas bandas do Oriente Médio, dizia-se que na conversa entre sultões e grandes dignatários, quando um, precavido e com ideias próprias, escutava o outro, também ressabiado, a nenhuma conclusão se chegava… Também nos tempos de hoje, sobretudo do campo da política, assim rotineiramente acontece. Um dos casos típicos dessa conversa estamos assistindo, na presente e extra-legal campanha eleitoral aqui em nosso Estado, entre duas importantes figuras do status governamental: o prefeito da capital e o governador do Estado. O prefeito manifesta-se pela candidatura da senhora Dilma para presidência da República sob alegação fantasiosa do “princípio da gratidão”; o governador, do alto de sua majestade partidária, diz que nada obstante sua credencial para ditar os rumos de seu apoio (de seu partido e sequazes, naturalmente), deseja auscultar primeiro a vontade popular, a quem é grato. Na simbologia da expressão (gratidão) as duas lideranças escondem o que realmente desejam a médio e longo prazo, ou seja, a separação das águas para que cada uma, há muito de coloração diferente, encontrem o leito próprio na bacia hidrográfica, e antropofágica, da política. É na verdade “conversa de grão-vizir”… , ou seja para ganhar tempo!
Ouvi de um fanático andrezista que o prefeito Nelson Trad Filho com essa recente manifestação de independência (de apoio a precoce candidatura da sra. Dilma Roussef) e que se segue a outras anteriores (citou-as, uma a uma), está se revelando num ingrato discípulo, eis que deve sua projeção política à mão poderosa e protetora de André Puccinelli, desde quando este era prefeito. Discordei dessa apaixonada análise e o fiz sob o forte argumento da verdade histórica. Nelson Trad Filho, na senda política, representa a expressão oligárquica de uma ilustre Família, com destacada atuação na vida política de nossa região há mais de cinqüenta anos, desde que o idealismo de Alberto Pascualine (o do trabalhismo autêntico) implantou-se aqui pela palavra e ação de um jovem advogado, o seu pai, Nelson Trad. Ambos, pai e filho, seriam ainda hoje do PTB não fora o ainda obscuro processo interno de “degola” , que sofreram, liderado pelo então e atual presidente nacional do partido, o ex-deputado Roberto Jefersson, aquele mesmo que também detonou o escândalo nacional dos mensaleiros, nódoa da qual o PT jamais retirará de suas cores.
Ademais, André Puccinelli não escolheu por vontade própria o então vereador Trad Filho para sucedê-lo, teve de aceitá-lo por força de sua preferência popular atestada em pesquisas. Habilmente, engoliu-o, e agora pretende iniciar o processo de sua digestão. Haja antiácido…
Mesmo que se aceite o argumento estrábico daquele estremado andrezista – o discípulo não pode virar-se contra o criador – o dogma pode ser válido entre filho e pai onde as relações são de umbigo, jamais nas relações da política partidária. Há circunstâncias tais que podem levar a uma irreparável dissenção, quando sobretudo existirem conflitos programáticos ou pragmáticos, válidos portanto, ou de senho egoísta, superioridade ou coronelista. Como exemplo, aqui em nossa seara, os gestos de independência de Marcelo Miranda, Londres Machado, Levi Dias, João Leite Schimidt; para lembrar destes dentre muitos outros que se desfiliaram da liderança de Pedro Pedrossian – é de justiça lembrar que Pedrossian quando eleito pela primeira vez governador (isto em Mato Grosso Uno) foi um extraordinário incentivador pelo ingresso de jovens na política – para criarem vôos próprios e os criaram e ai estão até hoje entre tropeços e sucessos.
Para concluir. Tanto o prefeito da capital como o governador do Estado, têm seus rumos há tempos traçados e a conversa atual entre eles não passa de uma retrospectiva de dois autênticos grão-vizir…
Ruben Figueiró de Oliveira foi deputado estadual, federal, constituinte em 88, secretário de estado e conselheiro do TC-MS