Por Luiz Fernando Pavan da Silva e Fabiano Santana dos Santos *
Viajar para lugares diferentes, conhecer novas culturas, fugir da rotina, respirar novos ares. Esses são os planos e sonhos de muitas pessoas que vivem nas grandes cidades. Atualmente existe uma enorme gama de atrações turísticas – das tradicionais até as mais exóticas –, contudo até onde essa prática tão almejada pode ser vista como algo bom para os que a recebem? Onde se peca quando não há o devido planejamento?
Muitos destinos conhecidos hoje são administrados de forma cautelosa e estratégica. Existe todo um planejamento voltado para infraestrutura, preservação ambiental e impactos para a população local. Há, todavia, muitos destinos que “acontecem”. “Primeiro, um lugar remoto é descoberto por algum aventureiro estrangeiro. A notícia se espalha, guias de turismo passam a escrever sobre o local e uma onda de viajantes começa a ir para lá”, diz PegiVail, renomada antropóloga e autora do documentário Gringo Trails, que trata dos impactos gerados pelo turista na economia, meio ambiente e cultura local.
Ao enxergar o grande potencial da prática, gestores e até mesmo a população local “crescem os olhos” para os possíveis benefícios do turismo. Eles observam uma nova movimentação na economia local com a chegada de empresas especializadas no ramo. Tais empreendimentos são vistos como solução para a valorização imobiliária, a geração de empregos, a divulgação da cultura (comida e artesanato) ou costumes, e mais uma série de outros benéficos. Para os moradores, trata-se “da melhor coisa que já aconteceu aqui”, porém esse vislumbre geralmente não dura muito tempo. A população não se dá conta dos “pecados” que são cometidos nesse processo. Por exemplo, mal percebem que a soberba e a avareza começam a reinar no ambiente outrora pacato e seguro.
Se analisarmos a problemática por esse ponto de vista, perceberemos que a prática envolve todos os sete pecados quando não planejada de forma adequada. A luxúria aparece com a exploração sexual, muitas vezes praticada quando alguns atrativos se defasam. O incômodo da população local para com o excesso de visitantes começa a despertar a ira. A gula poderia ser associada de forma abstrata à fome de se tirarem vantagens dos visitantes. A inveja aparece entre os comerciantes sobre o poder aquisitivo de alguns que se destacam em determinado ramo relacionado. Já a preguiça se destaca entre os gestores que não se preocupam em estabelecer regras e planos para que se preservem os atrativos e se mantenha de forma organizada a prática do turismo mesmo reconhecendo essa necessidade no decorrer do tempo.
A exploração desenfreada do todo começa a definhar as atrações de forma lenta e gradativa. A natureza, que antes era o principal atrativo, morre por não ter sido preservada. A cultura local é modificada, gerando conflitos internos. A economia e a especulação imobiliária podem afetar negativamente aqueles que residem no local. E investimentos públicos passam a priorizar o que é atraente para o turista, deixando de lado muitas vezes serviços básicos para a população, como saúde e educação. Certamente a avareza e a soberba se destacam dentre os “pecados capitais” cometidos pelo turismo, em que o dinheiro se torna um Deus. A exploração do potencial local é um mal necessário, e a soberba cega os exploradores que, diante de suas plenas razões, são incapazes de enxergar em longo prazo e perceber que tais ações podem ser prejudiciais. Com o meio ambiente degradado, preços elevados, favelização, destruição da cultura local e o fim do turismo que antes era visto como “o milagre”; o que antes era bônus torna-se um grande ônus para todos. Se um local tem potencial turístico a ser explorado, este deve ser estudado, planejado, preservado e monitorado para que ambas as partes (local/turista) se beneficiem, seja na economia, na infraestrutura e no bem-estar social, evitando cometer tais “pecados”, que facilmente podem levar ao fim da prática e ao surgimento de grandes problemas.
* Luiz Fernando Pavan da Silva: Acadêmico do curso de Administração da UFMS – campus de Três Lagoas/MS.
* Fabiano Santana dos Santos: Administrador e Professor da UFAL – Campus de Arapiraca/AL.