“A confiança é contagiante. A falta dela também.”
A frase do poeta americano Michael O´Brien encerra uma daquelas verdades universais que se aplicam a todas as áreas da vida. A confiança é a pedra fundamental das relações afetivas e familiares, das parcerias profissionais, das amizades que duram para sempre. No mundo corporativo, onde nada é garantido e as tendências podem mudar subitamente, ao sabor de escândalos, fenômenos da natureza, novas descobertas e uma infinidade de outros fatores, ela é o motor de decisões importantíssimas: um investidor se pauta justamente pela confiança ao optar por este ou aquele negócio.
Por isso, em 2009, quando vivemos o pior momento da crise, foi tão valioso conquistar o grau de investimento e entrar para a constelação dos “países confiáveis”. Nossa capacidade de recuperação, aliada à estabilidade institucional e à solidez do sistema financeiro, nos levou a um patamar muito elevado – talvez o melhor da nossa História.
E uma pesquisa divulgada esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que não foi apenas no plano internacional que o Brasil conquistou uma presença mais forte. Também no plano interno, o empresariado recuperou a confiança no nosso potencial. O levantamento feito pela CNI revelou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) atingiu 68,7 pontos em janeiro.
I ICEI se baseia em dados levantados pelas federações de indústrias de 25 Estados. Para estabelecer a pontuação final, são analisadas informações referentes a comportamento e expectativas das indústrias de vários portes e segmentos. A pontuação pode chegar a cem: abaixo de 50, considera-se que o ambiente é de desconfiança.
O índice de janeiro é o maior índice em 11 anos, e foi alavancado, sobretudo pelas grandes empresas. Nestas, a pontuação chegou a 70,1 pontos. Entre as médias, o ICEI foi de 68,7 pontos, e entre as pequenas, de 63,1.
A prudência destas últimas em entregar-se à euforia é compreensível e deve ser interpretada como um reflexo das dificuldades enfrentadas durante o ano passado. Afinal, a retração de crédito e a absoluta indefinição do mercado experimentadas em 2009 obrigaram muitos empreendedores de menor porte a “puxarem o freio de mão”, a adiarem planos e suspenderem projetos.
Ainda assim, a recuperação do otimismo foi rápida e significativa, e tende a prosseguir: o índice de confiança no semestre subiu de 68,7 pontos, detectados em outubro do ano passado, para 71,8 pontos em janeiro de 2010. Este é o maior valor de toda a série histórica!
Se as indústrias estão otimistas, é sinal de que elas vão investir, e muito. Estima-se que o crescimento do PIB poderá atingir 6% em 2010, o maior do Brasil em muitos anos. Para o aquecimento da economia não ser ameaçado pela falta de uma infraestrutura adequada, é fundamental que o governo prossiga investindo nas obras do PAC e que a questão energética seja tratada como prioridade.
Em entrevista recente, Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revelou que o consumo de energia pelo setor industrial terá uma elevação de 9,4% em 2010, e que o consumo geral de energia será 7,4% mais alto do que o ano passado.
Temos, portanto, perspectivas excelentes, mas estas vêm acompanhadas de enormes desafios. Lidar com eles de maneira rápida e produtiva é uma missão que cabe a todos os brasileiros!
Eduardo Pocetti é CEO da BDO, uma das maiores empresas do mundo em auditoria, tax e advisory