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Opinião

Padrão europeu

Detesto atitudes paga-paus! Ainda mais aquelas que a gente serve de escoadouro a um monte de pilhérias que ninguém é obrigado a escutar. Fulano que imita a idiossincrasia de um ator de novela ou de cinema; outro que se gaba de falar um quinto idioma que não tem serventia em quase nenhum lugar do mundo; outro que acha que ficou culto e conheceu várias cidades da Europa depois de uma estância de uma semana naquele continente onde não ficou mais que um dia em cada capital.
Ainda que sejam poucas essas experiências de maltrato à audição, não dá para tolerar. Inteirei-me de uma situação que une a falta de bom senso com uma atitude paga-pau. Alguns modelos do automóvel Peugeot 307 têm sido comercializados com a placa dianteira posicionada num nível muito inferior, o que provoca que ela raspe no chão, frequentemente entorte, ou até caia quando se manobra na garagem ou se passa em lombadas e valetas. E como se venderia o carro nesta circunstância?
Daí que o funcionário de uma concessionária da Peugeot no Brasil, daqueles que se encarregam de vender o carro com o argumento que seja, relatou que era assim mesmo porque o automóvel tinha sido projetado dentro dos padrões franceses. É um devaneio deduzir que temos vias apropriadas para esse padrão de engenharia. Como aceitar que esta linha de automóveis tenha sido fabricada para trafegar no Brasil como se a estrutura viária daqui fosse a da Europa?
O cara pirou. Melhor dizendo: esse tipo de afirmação parte de um imaginário (do qual espero não façamos parte) de imitação destituída de condições para fazê-la. Nesse caso, o espelho nem reflete a imagem. No Brasil, comercializam-se automóveis cujos velocímetros podem alcançar 240 km/h, mas que não podem passar de 60 km/h em vias urbanas sob risco de receber uma multa por exceder o limite de velocidade, ou 120 km/h em rodovias quando se concede muito.
Já vi de tudo: radares móveis escondidos em pontes ou no mato; radares que ficam atrás de placas de sinalização sobre a rodovia; radares que são instalados em vias de 40 km/h. Dizem que, se pegar o brasileiro no bolso, ele respeita. Que pensamento retrógrado! O que nosso governo soube fazer até agora é arrecadar, arrecadar e arrecadar. Mais valeria educar que punir. Investir no cidadão, que é bom, nada.
Falta entender nossas raízes para partirmos das condições que temos. Atrever-nos a reconhecer o que é nosso e não envergonhar-nos se tivermos que partir do zero. Lembro-me das pessoas de terceira idade que travam o trânsito com seus carros antigos. Na hora, dá desespero nos outros condutores. A gente quer ir mais rápido. Aí surge a razão, que avisa que pelo menos eles não se arriscam a multas de velocidade nem pagam IPVA, aquele imposto que causa azedume.
Se tivesse que pagar pau, eu pagaria para eles. Não esquentam a cabeça.

Bruno Peron Loureiro é bacharel em relações internacionais